DESENCONTRO - OU UM FUNESTO ENCONTRO?
José Luís Nóbrega

Por ser o vendedor mais antigo e aplicado em uma concessionária de automóveis, fora convidado pela montadora para participar de um curso para aprimorar a arte da venda (ou a arte de se iludir quem está comprando).

O curso seria ministrado na longínqua cidade perdida entre o Estado de São Paulo e o Sul de Minas, chamada São José do Rio Pardo. Como morava em uma grande metrópole, pensou que não seria nada mal passar uns dias no interior, curtindo o ar puro em uma cidade que certamente lhe acolheria muito bem.

Não havendo nada para se fazer naquela pacata cidade, após o primeiro dia de curso saiu do hotel para conhecer o berço de “Os Sertões”. Sentado a uma mesa de bar, notou que alguém o olhava. Não era um olhar comum, desses que se fitam sem qualquer motivo aparente. Era um olhar frio. Um olhar que lhe tocava a alma, causando não só medo, mas também um pavor incontrolável.

Aquele ser estranho, sentado ao lado, todo vestido de preto não arredava o olhar sobre aquele simplório vendedor de autos, que todo amedrontado, pediu a conta, e com passos largos, voltou ao hotel onde havia se hospedado.

Subiu até o quarto, pegou mais que depressa suas roupas, e sem esperar pelo elevador, dirigiu-se à recepção. Enquanto fazia o cheque, com as mãos trêmulas, o dono da hospedagem ao perceber o pavor daquele pobre homem, indagou se ele não havia gostado da cidade, ou até mesmo do curso, que ainda teria dois dias de duração.

- Não, não é nada disso – respondeu o trêmulo-assustado-vendedor. É que eu vi a morte faz poucos minutos, ali no restaurante da esquina. Ela me olhou de um jeito tal que me gelou a alma. Estou morrendo de medo! Ouvi dizer que existe uma cidade próxima daqui, chamada Caconda... Ou Caconde, não sei. Não que lá seja o fim do mundo, mas me disseram que é uma cidade cercada por montanhas. Se eu me apressar, devo chegar lá por volta das 21:00h. Devo ficar a salvo por lá, e amanhã bem cedinho, retorno para São Paulo.

O dono do hotel estranhou a história, mas achou melhor não atordoar mais aquele pobre homem com indagações inúteis. Esperou que ele saísse, e foi verificar de perto se a “coisa ruim” estava mesmo no restaurante da esquina.

Chegando lá, viu que de fato o ser vestido de negro estava sentado solitário em uma mesa. A morte olhava para todos, como se quisesse falar através dos olhos. 

- Como a senhora ousa olhar assim para as pessoas!? A senhora acabou de assustar um hóspede meu! Seu olhar fez a alma do pobre homem gelar! – desabafou o dono do hotel.

- Não, eu não queria assustá-lo. Eu só queria avisar que terei um encontro com ele, às 21:00h, numa cidadezinha vizinha chamada Caconde... Ou seria Caconda? – disse a morte, tomando mais um trago de vinho tinto, e levantando-se da mesa...

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