ELA E ELE
Raquel Santos

Pontualmente 11h30 da manhã, no local combinado, estava ela de mini-saia preta, blusinha colada cor de ferrugem, os cabelos longos, cacheados e ruivos ao natural e uma suave maquiagem. Tudo criteriosamente escolhido para aquele encontro.

Passaram-se 10 minutos, 15 minutos, 20 minutos, 40 minutos. Era mais fácil conformar-se e voltar pra casa. Como pôde ser tão burra? Ele não viria de São Paulo até aqui conhecê-la, já que haviam conversado apenas uma vez pela Internet. Tomou uma decisão. Era o fim dos chats e das vídeo-conferências; queria um namorado real, com encontros reais.

Pontualmente 11h30 da manhã, entrou no shopping receosa e procurando discretamente ao redor. Será que é aquele moreno? Será que é aquele loiro? Ele me disse ter olhos azuis, mas nos chats todos têm olhos azuis. Em um instante viu alguém que combinava com o que havia imaginado, se aproximou e perguntou: - Francisco?

- Sim. Respondeu ele. 

O encantamento tomou conta de seus pensamentos; era realmente um príncipe. Moreno jambo, olhos negros, corpo atlético e com um olhar sedutor. Não resistiu. Beijaram-se loucamente, fizeram amor e ponto final.

Voltou pra casa e havia um recado: “Francisco ligou, favor retornar”. Seu mundo caiu. O Francisco não era o Francisco. Enganou-se e foi enganada.

Pontualmente 11h30 da manhã, senta na praça de alimentação em um lugar oposto ao combinado; observa de longe a procura de qualquer rapaz que combine com as características que ele mencionou. Reparou em um moço de camisa marrom, como o prometido, sentado com um olhar de dúvida. Só poderia ser ele e sinceramente não lhe agradou. Pediu um príncipe e lhe mandaram um sapo; e como não sabia dizer não, preferiu deixá-lo esperando até que se cansasse e voltasse pra casa. Não teve dó por ele ter vindo de São Paulo só pra conhecê-la; era melhor que dizer a verdade: “Você não faz meu tipo”. Daria uma desculpa: “Nos desencontramos. Quem sabe uma próxima vez?”.

Pontualmente 11h30 da manhã, se encontraram exatamente conforme combinado. Ela de mini-saia preta e ele de camisa marrom. Ela de cabelos soltos, cacheados e ruivos e ele de olhos azuis e óculos. Conversaram, se beijaram e marcaram um novo encontro. Ela não queria, mas não soube dizer não. Outro encontro e outros mais. Ele apaixonado e ela totalmente fria, pois lhe achava cansativo. Mas a razão dizia que sim (este vale a pena, foi o que você sempre pediu), o coração dizia que não (é muito pegajoso e não dá espaço pra sentir saudades). A razão em desencontro com o coração. Como sempre foi muito racional, deu-se uma chance e aprendeu a dizer “Eu te amo”.

Pontualmente 11h30 da manhã, o juiz perguntou a ele, em seguida a ela. As vozes se encontraram e ouviu-se um sonoro: SIM.

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