MEU PRÍNCIPE
Adriana Vieira Bastos

24/05 - Do nada ele surge! 

E o corredor do supermercado torna-se pequeno demais para nós três - ele, eu e o meu jeito irritantemente desastrado, capaz de colocar em risco uma história, há muito esperada para ser vivida. 

Silencioso, observa meus movimentos como se estivesse ali para esta inspeção fora de hora e eu, atrapalhada, derrubo os pacotes de bolacha da prateleira como se também fizessem parte do cenário escolhido para este primeiro encontro. 

Com um sorriso enigmático, passa por mim, olha-me, como se quisesse me desnudar num piscar de olhos, e simplesmente segue até desaparecer no final do corredor, sem se preocupar com o estrago que acabara de causar dentro do meu peito. 


31/06 - Fim de tarde! 

Animadamente converso com Carla até que avisto, na porta do café, o meu príncipe: 1.84, moreno, olhos escuros e penetrantes, boca carnuda, peito forte, costas largas, pronto para tomar conta de meus confusos pensamentos. 

18h45 - Enrubesço ao vê-lo aproximar-se! Tento parecer natural, mas sou traída, desta vez, pela xícara de café que derrubo por toda a mesa. Carla, rindo sem parar, pergunta se havia visto algum fantasma que justificasse meu semblante pálido e aquele estrago todo. 

Desconcertada, sinto o peito arfar ao me deparar com o sorriso certeiro de meu príncipe, quando passa em direção à mesa ao lado. 

19h30 - Já não sabendo o que falo, peço um outro café e caminho em direção à toalete. Meus passos tornam-se cada vez mais trêmulos ao me aproximar de sua mesa. 

Com um ar displicente, levanta-se e roça seu peito no meu, deixando-me zonza com a sutileza de sua ousadia. Em seguida, inclina a cabeça, como se pretendesse se desculpar, e segue, sem olhar para trás, alheio a indignação causada pelo vazio de sua súbita partida. 


07/08- Meus dias caminham por caminhar! 

Meu chefe repreende a minha desatenção e diz que este olhar apaixonado ainda vai me levar para o olho da rua. Quem sabe, com isto, vou ter mais tempo de procurar o tão sonhado príncipe? Carla diz que devo marcar uma analista, pois já estou bem grandinha para ficar vivendo de ilusão. E eu, alheia a estes comentários maldosos, sonho com o momento do reencontro. 


09/09 - O calendário continua o seu movimento! 

21h00 - Cansada de me alimentar da solidão deixada pelo príncipe, decido sair para comemorar o aniversário de uma amiga. 

23h10 - Casa lotada, clima esfuziante e eis que sou atraída por um olhar fixo, vindo do balcão. Sinto um arrepio na espinha! Não tenho dúvidas, conheço a energia deste olhar. 

Enfeitiçada, levanto-me sem pestanejar, e deixo-me levar pela sensualidade do salto 15 até tropeçar e acabar caindo em seus braços. Quando tento dizer algo, ele pousa seus dedos nos meus lábios e sorri. Sinto a adrenalina a mil, o coração disparar e minhas pernas cada vez mais bambas.

23h20 - Saímos da discoteca e, guiados pelo silêncio, chegamos ao seu quarto. Rendo-me ao desejo! Nossos corpos dizem tudo o que não precisamos dizer e nos amamos até a exaustão! 

3h30 - Madrugada! Meu príncipe se espreguiça e diz que, na manhã seguinte, seguirá o seu rumo e me convida para fazer parte de sua vida. Displicente, ainda diz que há, em cima do armário, uma passagem aguardando a minha decisão. 

Neste momento o celular toca! É Carla, preocupada, perguntando se estou bem. Lembra-me, ainda, de não esquecer a planilha que será apresentada na reunião das 8hs.

Desta vez, rendo-me à razão! Reconheço estar lendo "Sabrinas" demais e, antes que seja tarde, opto pela recordação de um breve ensaio de amor. Não quero esperar para ver o meu príncipe se transformar e correr o risco de minha linda história virar um pesadelo. 

4h00 - Sorrindo, me visto, dou-lhe um beijo e, sem nada dizer, sigo em direção à porta. É a minha vez de sair sem olhar para trás.

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