PURO DESEJO
Renata Cabral

Ela está lá. No meio da pista, sozinha. E você, como bom caçador que é, resolve montar sua arapuca e prende-la em sua rede. Ela percebe seu interesse e balança o vestido azul. Balança de uma forma tão envolvente e sedutora que você, por instantes, esquece-se de quem é. Ela sorri. Percebe que acaba de ter mais um marinheiro desavisado preso ao canto mágico de sereia urbano. Os cabelos loiros, antes presos, são delicadamente soltos. E roçam pelos mais belos ombros nus vistos por você. Você chacoalha a cabeça. Não pode se deixar abater, afinal, o grande conquistador é você. Você é quem decide os rumos de sua vida, de suas paqueras. E ela não tira os olhos azuis de você. Sente-se nu, despido, envergonhado diante daquele imenso e bravio mar. Ela entende-lhe a mão e convida-o a se aproximar. Você vai, cauteloso. Nunca se sabe quais os mistérios escondidos na imensidão daquele vestido azul. Você nunca imaginou que azul fosse uma cor tão quente. Tão desejo. Enquanto você caminha, ela morde os lábios. E você pára. Parece enfeitiçado. Quer fugir, quer correr, quer sair, mas o conjunto à sua frente não lhe permite. Ela vem ao seu encontro. Coloco o vestido azul a uma distância que lhe permite ver, o vestido, saltar de desejo. Os olhos azuis passeiam pelo seu corpo. E você novamente se sente despido. E antes que se cubra, ela lhe beija a nuca. Você foi pego. Está irremediavelmente preso. Preso numa imensidão azul que é puro desejo.

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