A MOÇA DOS OLHOS AZUIS
Sonia Lencione

A moça caminhava pelas calçadas beirando a praia. 

Trazia nos pés umas chinelas que faziam um barulhinho engraçado a medida que caminhava.

A blusinha rosa deixava que se visse uma barriguinha atraente.

Os cabelos com reflexos dourados eram longos e belos. 

A pele bronzeada.

Uma boca carnuda num rosto perfeito.

Os olhos azuis enormes eram de um azul intenso. Lembrava a cor de certas violetas. Inconfundível cor.

Eu a vi passando e pensei como seria a vida de uma moça tão bonita. 

Ela caminhava despreocupadamente.

Notei-a pela beleza e devido aquelas chinelas barulhentas.

Cansei do sol e me dirigi a uma feirinha onde se vendiam bugigangas. Pequenas lembrancinhas do lugar.

As pessoas estariam esperando pelas lembrancinhas. Claro! 

Comecei a olhar uma coisa ou outra. Difícil escolher. Sempre achei difícil escolher um presente, ainda mais estes tipos de lembranças.

Enquanto não me decidia a comprar alguma coisa a moça dos olhos azuis entrou.

Eu notei que ela se comportava de uma forma estranha ao tocar os objetos. 

Passei a observá-la melhor com um certo receio que ela se desse conta que eu estava percebendo que ela furtava.

Fiquei mal, não gosto destas situações.

Ela poderia perceber e o dono da banca também poderia notar que eu estava percebendo.

O vendedor se dirigiu a mim.

— Decidiu se leva o brincos azuis ou os verdes?

— Já, já. Embrulha os azuis. 

Queria sair correndo dali. Aquela ladra estava me abalando.

Não sabia se devia denunciá-la. E se estivesse armada?

Poderia estar carregando na bolsa um revólver? 

Ó não! Mas ela tinha uns olhos tão doces, tão lindos... 

Estaria eu dramatizando as coisas?

— Embrulha os verdes também...

A ladra havia notado que eu a vira furtando. Olhava-me de uma forma estranha.

O vendedor:

— Mais alguma coisa?

— Não obrigada.

Não iria a outra banca. Outra hora voltaria, pensei.

A tal moça despreocupadamente se dirigiu a mim. 

— Tem bom gosto. Escolheu os brincos mais bonitos.

Olhei-a de soslaio e me dirigi à saída.

Dentro de mim eu me condenava por não ter tomado atitude alguma.

Bem, na verdade tomara. Fugira do ambiente o mais rapidamente possível. 

E essa agora? A fulana puxando prosa...

Os olhos eram bonitos demais. Ela toda era bonita demais para estar se comportando daquela forma.

Como podia julgá-la? Eu nada sabia de sua vida...

Só queria vê-la afastar-se de mim. Tudo aquilo havia me abalado. 

Na verdade nem sabia ainda se desejava comprar aqueles brincos. Os azuis ficariam bem naquela moça. Eram de uma tonalidade bem parecida com a de seus olhos encantadores.

Olhei o mar e toda aquela imensidão dizia paz. Caminhei na areia e pensei no mundo, nos seres todos que habitam o planeta. 

Tão cedo não esqueceria aqueles olhos. Joguei no mar aqueles brincos azuis. Seria uma forma de apagar a lembrança... 

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