BORBOLETA E MARIPOSA
Francisco Pascoal Pinto de Magalhães

Me chamo Papillon. Aliás adotei este codinome por causa daquele presidiário interpretado por Steve McQueen no cinema, lembram? Sabiam que Papillon em francês significa borboleta? Pois é. Por isso mandei tatuar esta Lepidoptera Brasiliensis no meu ombro esquerdo. Fiz isso depois de meses de malhação e doses reforçadas de suplementos para eqüinos que comprei no câmbio negro. Essa combinação me deixou, como dizem lá na academia, sarado. 

A noite dou um trampo como segurança num bingo lá em Moema. Terno bem cortado, óculos escuros, faço o tipo Homens de Preto. Dá pra garantir uns trocos. Pena que o terno oculte o resultado da minha puxada diária de ferro. Depois do trampo, dia já claro, costumo tomar uma tigela de granola com açaí no Natural Style. Foi lá que a conheci a Deise.

- Esperando a noiva, grandinho? - Ela perguntou tirando uma com a minha cara.

- Noiva?

- Não vai dizer que pôs esse terno aí só para passear no Ibirapuera. 

- Ah!

- Bom, se você não se tocou a igreja já abriu as portas. É melhor tu ir andando senão vai morrer solteiro.

Entrei no jogo e convidei-a para sentar à mesa, comer alguma coisa.

- Que é isso que tu está engolindo?

- Açaí. Quer um pouco?

- Tô fora - Ela fez uma careta - Prefiro uma breja gelada.

Dizem por aí que os opostos se atraem e eu estou começando a acreditar nisso. Só não sei se vamos dar certo. O problema é que ela é da noite, curte baladas regadas a cerveja, fuma maços e maços de cigarro, dorme até tarde, cura as ressacas com mais uma dose. Malhação, nem pensar. 

Chamam-na de Mariposa. Isso é o que mais nos aproxima. Insetos alados. Mariposa e Borboleta. Ela, dando a vida por um facho de luz. Eu, vivendo do meu exibicionismo, vaidade em pessoa.

Onde o ponto de equilíbrio para vivermos nossa fábula?

O acaso nos apronta cada uma!

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