SIMULTÂNEO
NASCER

Lula Moura

Dor de como dói,
de tudo que se acaba,
que se destrói,
e fala mais alto
ao coração.


Transita
no deserto infeliz.
Transmuta esguio
no luxo frio,
no fluxo da meretriz.


Atriz que tem de ser,
adulta, evita ser adúltera
na vida, de fato, vivida,
na foto, no gozo infeliz,
contraditório no sonho,
ao acaso, ao léu.
Réu ou juiz.
Ou não...


Roda lâmpada, matreira,
gira lânguida, feiticeira.
Laço engano, ledo lindo.
Casa, casulo, casamento.
Deseja, quer e induz,
mas externo, na pele
o vinho caipira, finge e fere.
E sugere o medo vindo.
Que medo! Que medo?
Tarde ou cedo, veio.
Fim, início, pra lá do meio,
Feito cimento de areia.
Feito lamento de lua cheia,
que cheira fim-de-amor.
Junta, curte, vive, festeja.
Rasga, separa,
fere o sentimento.
Aproveita o ensejo,
e enseja.
E seja você,
seja eu, ou não seja.


Seja fim, seja começo,
Justaposta, a proposta opõe.
E aposta que dará. Certo?


Morre o casamento,
morre o casulo,
Descaso, descasala.
Mergulha e nada,
nada é por acaso.


Sonha com um “dia branco”
e acorda borboleta, livre.
Se finge de morta, e salta,
em pára-quedas.
Do nada ao tudo,
em risco difuso,
em riso confuso.
Salto livre, assalto em feira,
segue o impacto,
feito rio afora.
E o cio, que aflora,
grita de prazer, ao saber.
Ex-casulo, por um triz,
a borboleta encanta.
E sua voz, em linda cena,
canta , em tanta emoção, feliz
.

No bater das asas,
levanta os olhos e
surpresa, encontra o outro,
que lhe assemelha,
ao lado da alma, que gêmea
e que geme igual,
que treme na melodia,
doce indecência da alma,
que geme, que não fêmea,
essência do seu ser.
É seu presente natal,
seu simultâneo nascer...

fale com o autor