CORES E AMORES
Míriam Salles

Serena vestia a meia de seda sem se dar conta de que todos os seus movimentos estavam sendo acompanhados. Calçou os sapatos e só então vestiu a mini-saia de jeans muito justa, que a obrigava a encolher a barriga para fechar o zíper. De costas para Lucio, permitia que ele admirasse o desenho em forma de coração quase no ombro direito. Aquele desenho o intrigava e era uma das poucas coisas que nunca tivera coragem de comentar com Serena. 

Lucio não fez o menor movimento mas engoliu em seco quando ela começou a escovar os cabelos castanhos, levemente encaracolados. Sentia que Serena se envolvia com uma aura de sedução neste ato e gostava de ver como seu rosto se iluminava, mesmo pelo espelho gasto pelo tempo.

Pensou que um dia gostaria de levá-la a um motel de categoria, um daqueles com teto solar e banheira de hidromassagem. A grana andava curta, os filhos solicitavam muito. Agora com essa estória de internet cobravam cada vez mais acessórios.

- Pai, quero uma banda larga.

- Papai, me dá um tocador de MP3?

- Pai, preciso de um computador melhor; nesse aqui nem dá pra jogar RPG com os meus amigos pela internet.

Serena era seu porto seguro. Dava de si quanto podia e quando não podia, se magoava. Sempre conseguia um jeito de acalmá-lo quando estava nervoso e de atraí-lo quando estava ausente. Quase sempre conseguia que se desligasse de tudo e só sentisse os dois. Dois corpos, duas mentes, dois amores fundidos numa única paixão.

Lucio olhou novamente para o coração e perguntou, pela primeira vez:

- Por que um coração verde? Não deveria ser vermelho, cor do amor?

Serena olhou-o demoradamente antes de responder, como se divida entre contar ou não um grande segredo.

- E então? Não vai me contar?

- Lucio, acabei de descobrir que você é daltônico.

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