VIDAS QUE VÊM E VÃO
Alice

Aos três meses de gravidez Mariana sofreu um grave acidente automobilístico entrando em coma profundo. Com autorização de Daniel, o marido, os médicos tomaram as providências para que a criança se desenvolvesse normalmente pois a gravidez não foi afetada.

A partir daí começou o drama de Daniel: dias e noites no hospital acompanhando o desenvolvimento de seu primeiro filho e na esperança que sua querida voltasse à vida. A cada mês a transformação era sentida por ele ao observar no ventre materno uma nova vida surgindo e sofria ao pensar que seu filho talvez nunca veria a mãe e que ela não pudesse ver o fruto gerado de seu próprio corpo.

O tempo passava sem que Mariana recuperasse os sentidos, Daniel acariciava sua amada e dizia: "que se pudesse daria a própria vida para vê-la feliz". Contava como fora as horas no trabalho e como contava o tempo, os segundos para estar com ela novamente. E foi acariciando ela que viu pela primeira vez o neném se mexendo na barriga da mãe, neste momento pensou que ela também poderia voltar à vida, mas nada, era como se ela estivesse guardando energias para a filha. Sim, era uma menina, os médicos já sabiam o sexo.

Foi uma metamorfose marcada em sua vida, a ferro e fogo. Daniel via a mulher inerte dando vida a uma criança sem ela mesma ter direito a essa vida . Seu ventre antes liso foi aos poucos se avolumando, mês a mês, até que chegou a hora do parto. Junto ao leito segurou-lhe fortemente as mãos e pediu para que voltasse para ver a filha que iria nascer, que ela acordasse na hora em que o bebê fosse retirado de seu ventre. A alegria e a tristeza brigavam ferozmente dentro dele. Duas vidas que lhe eram caras, uma chegando, outra partindo, uma amava com doçura, a outra que chegava, não seria menos amada, era uma extensão da mulher que adorava e que partiria em breve. 

A dor de perder para sempre sua esposa, a alegria infinita de ter em seus braços sua primeira filha. E assim levaria pela vida afora a saudade no lugar do coração. Um homem que amou profundamente uma mulher para vê-la partir, teria de aprender a desenvolver neste mesmo coração o sentimento de um pai e de uma mãe que a filha iria precisar.

Daniel acompanhou o parto e viu sua filha nascer, recebeu em seus braços a pequena Vitória, levou-a até sua esposa, deitou-a ao lado da mãe, uniu as mãos da mãe e filha num toque emocionante, a filha fechou a mão segurando o dedo da mãe num gesto jamais visto, médicos e enfermeiras não puderam conter a emoção. Ao ser retirada para os primeiros cuidados, ela chorou forte e ele sentiu que laços se partiram entre elas naquele momento. Horas depois os aparelhos já não puderam mais segurar a vida de Mariana, ela partiu em sua viagem eterna. Para Daniel começava ali mais uma etapa de transformação em sua vida, o crescimento da filha Vitória para a vida, sob a luz do sol e das estrelas.

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