BICHO-DA-SEDA
Luís Valise

 
 
Quando sentiu que não agüentava mais, avisou: - Vou gozaaaaaaar! E durante alguns instantes o mundo deixou de existir. Ela também fez um baita escarcéu, mas ele nada ouviu. Deixou-se ficar, renascendo, sobre o corpo moreno. Um arrepio, um último estrebucho, e desceu de lado, virado para a parede, olhos fechados, ofegante. Mais tarde pegou o maço de cigarros sobre o criado-mudo. Acendeu um, ofereceu, ela aceitou. Ficou de frente para a mulher, apoiado num dos braços, esperando que ela acendesse o cigarro. Quem era aquela estranha? Um corpo ao seu lado na cama, mais baixa que alta, seu rosto nada tinha de especial. As mãos eram grosseiras... O silêncio só piorava:

- No quê você tá pensando? Ela soltou a fumaça antes de responder:

- Em nada, não. Só tô descansando, só. 

Uma mentira deslavada. Ela pensava quem seria aquele homem magro, de barba rala e mal-feita, mais baixo que alto, voz de taquara rachada, mãos tão calejadas que quase arranhavam o carinho... E antes que o silêncio piorasse:

- Faz tempo que você tá em São Paulo?

- Treze anos. Já faz treze anos, já. E você?

- Vai pra quatro.

Os cigarros já estavam apagados há algum tempo. O silêncio teimava em gritar, acordando os sentidos. Eles estavam deitados sobre os lençóis, e como qualquer corpo de mulher aquele também tinha seus encantos. Ele olhava e via, e voltou a passar a mão calejada sobre a barriga da mulher, que só fez arrepiar. Ele sentiu o tremor, pegou num peito, chupou a ponta do outro, e montou de novo. Agora ela não pensava quem seria o homem magro, agora ela queria o homem magro, e com a mão guiou a lagarta gorda para a entrada do casulo macio. Dentro da sua barriga, um bando de borboletas malucas. Ela gemia, a cama rangia, e ele cavoucava em busca do ponto de luz.

Quando sentiu que não agüentava mais, avisou: - Vou gozaaaaaaar! Ela não ouviu, porque já estava indo. E durante alguns instantes o mundo deixou de existir, enquanto os dois mergulhavam no reino da metamorfose.
 
 

fale com o autor