O PATO E O CISNE
Marsal Sanches

Quando criança, Junior tinha dificuldades em fazer amigos. Os colegas da escola zombavam dele, devido aos óculos e outros motivos:

- Quatro-olhos! Porco-espinho!

O cabelo de Junior estava sempre eriçado, por mérito da genética e do shampoo que ele habitualmente usava. Franzino, era sempre o último a ser escolhido para os jogos de futebol, durante as aulas de educação física. Virou até referência para o desempenho de outros jogadores:

- O fulano, não! Ele joga pior que o Junior!

Entretanto, havia um consolo em sua vida: a estória do Patinho Feio. Desde que, pela primeira vez, a ouvira, ficara convencido:

- É o meu caso!

Durante os recreios solitários e as horas no banco dos reservas, Junior deliciava-se com devaneios. Imaginava-se passando por uma completa metamorfose, que o levaria de patinho feio a cisne. Não sabia com exatidão quando a mesma ocorreria. No colegial, talvez. Ou na faculdade. 

O colegial veio e passou, sem que a esperada transformação ocorresse. Durante o primeiro ano da faculdade, seus óculos eram constante objeto de brincadeiras por parte dos veteranos, que os pintavam com batom e tinta guache. Os cabelos haviam ficado ainda mais espetados, sem dúvida pelo fato de terem sido raspados a zero no dia da matrícula.

- Não quero ser um patinho feio para sempre!

Decidiu mudar de vida. Passou por uma cirurgia, para resolver o problema da miopia. Esperou que os cabelos crescessem e investiu em novos shampoos e condicionadores. Entrou para uma acaddemia de musculação e freqüentou aulas de teatro, para se tornar mais extrovertido.

- Agora, ninguém me segura!

As meninas logo notaram que Junior, agora, era outro:

- Ai, você está tão diferente…

Fez amigos e passou a sair e viajar com freqüência. Ia a todas as festas, e estava bem cotado para próximo presidente do centro acadêmico, tamanha sua popularidade.

Até que um dia, aquilo aconteceu. Era um final de semana de dezembro, e Junior havia ido para o Guarujá com alguns colegas. Para comemorar o final do ano letivo. Junior perdeu a noção do tempo, e permaneceu por tempo demais sob o sol. Sua pele ficou vermelha como a de um índio apache, e ele acabou tendo que passar a noite no pronto-socorro. 

Quando as aulas recomeçaram, em fevereiro, toda a faculdade já sabia do que ocorrera, e o fato já estava rendendo muitas piadas e brincadeira.

Moral da história: Mais vale um pato feio e branco do que um cisne assado.

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