UM PRESENTE
Luiz André B. R. Cavalcante

— Estranho, ele, né?

E as duas ficaram olhando o menino magro, pálido, sem graça, que se danou a correr, como se não quisesse mais ser visto. Uma delas pensou: “Ele nunca mais vai aparecer”. A outra, se tivesse tido tempo, teria pensado coisa pior: “Esse nunca existiu”. Mas já abria o presente, que era mesmo para ela: uma caixinha pequena. Lá dentro, singelo e discreto, um relógio de ponteiros muito estranhos, que parecia feito de propósito para não marcar as horas. 

Dentro da caixinha, no fundo aveludado, um bilhete. Dizia assim: “Este relógio é para que você não me esqueça. Eu volto quando você aprender a ler as horas nele.”

Ela dobrou o bilhete, assustada, e olhou para a amiga. Que, num suspiro, limitou-se a dizer:

— Bom, o aniversário é seu, e o presente também.  

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