OITENTA ANOS
Ly Sabas

Foi dada a largada. Dias seguidos de corridas às lojas, idas ao banco, telefonemas nervosos, batuques frenéticos na calculadora. Pequenos aborrecimentos e para completar o salão destelhado por um vendaval. Assim como o vento, a primeira fase da preparação passa veloz.

Tudo no esquema, amanhece o grande dia. Em plena madrugada, campainha tocando e alguns personagens chegando. E sonolenta se inicia a segunda fase. Cadeiras arrastadas em espaços friamente calculados, mesas engalanadas, cascatas de bexigas, tudo em uma profusão de vermelho e branco arrasador. Alguns contratempos coroados por uma garoa não esquematizada.

Ligeiro intervalo para o almoço e vamos à terceira fase. Sobe pra cá, desce pra lá, corre acolá. Comprar filme, trocar lâmpadas, selecionar músicas, fiscalizar banheiros e se descabelar pela demora na entrega das bebidas. Receber salgadinhos, provar docinhos, buscar bolo. Tomar um banho corrido, borrifar perfume, subir no salto e voltar a todo vapor.

Respirar fundo e manter o sorriso na quarta fase. Acomodar, acarinhar, distribuir beijos, retribuir elogios e inventar desculpas pelo atraso das protagonistas. Segurar a emoção à entrada das duas, procurar saber porque uma se mantém tensa enquanto a outra é toda felicidade. Ajudar no périplo pelas mesas. Reapresentar amigos. Procurar o melhor ângulo para as fotos, organizar os grupos, abrir champanhes, servir taças, acender velas e bater palmas como um autômato. Ouvir atentamente o discurso e servir o bolo.

Na quinta fase é hora de relaxar, de amenizar saudades, de ficar por dentro das fofocas, de abraçar, de beber cerveja, de curtir a festa. Por último, antes que se inicie a sexta fase, observar se as aniversariantes estão satisfeitas com o resultado. Se a tensão já se desfez e se a felicidade continua. Afinal, não é sempre que se faz oitenta anos. 

À Denalta e Denaltina, com admiração, respeito e amor. 

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