LÁPIS, RÍMEL E SOMBRA
Luís Valise

 
 
A voz da puta não deixava dúvidas:

- De joelhos!

Leonel se sentiu ridículo. Quê estava fazendo ali? No jornal o anúncio era claro: “Dominatrix. Morena farta, linda sem ser fêmea, macho sem ser homem, vou te deixar de quatro.” O arrependimento antecipado. Nem tanto pela grana, uma micharia. Mais pela lembrança que iria carregar daquele mico solitário. Na verdade a mulher era boazuda. Tanto que, tão logo ficaram a sós, foi logo chamando-a de tesão e mal teve tempo de terminar a palavra a bofetada deixou-o mudo. Um tapa na cara dado com gosto e profissionalismo. A raiva e o esboço de reação foram paralisados pela língua resvalando nos lábios vermelhos. Não precisava espelho para ver a face avermelhada, sentia o calor. A puta ainda perguntou “Quer outro?”, e ele mais que depressa mentiu “Não”. Então ela pegou o chicotinho de couro e ordenou “Tira a roupa.” Ele tentou reagir, afinal estava pagando “Vai com calma!”, e o chicote explodiu no dorso de sua mão “Cala a boca e tira a roupa!”, tirou o paletó, vacilou, o chicotinho lambou as costas “A gravata, porra!” e depois a camisa. Ia pedir desculpas pela barriga mas conseguiu evitar o vexame. Com um pé sobre a cadeira, como uma domadora sobre um golfinho, a morena espetou sua barriga com a ponta do chicote “Já vi piores. Ou maiores.” Leonel tinha na barriga um ponto fraco “Vai se fo” não terminou, calado por outra bofetada, mais forte. Fechou o punho, pensou dar uma porrada na cara da putona, pagar e dar o fora, carregando o ego vencedor. Mas aquilo seria outro engano. Vencer o mais fraco não era vantagem. Queria sentir o prazer do humilhado, aquele que não precisa de justificativa, é perdedor e pronto. Tirou as calças devagar, a ilusão de despertar tesão na puta com suas pernas grossas. Os sapatos, as meias. Ela deu a volta em torno dele, levantou a barra da camisa com o chicote, avaliou “Bundão”. Sem saber se era elogio ou menosprezo, Leonel tirou rapidamente a camisa e virou-se de frente para ela, o pau já meia-bomba estufando a zorba azul-claro, um embrião de jibóia “Ta bom procê assim?”. A morena esticou o braço, a ponta do chicote fez um carinho na maçaroca, ele deu um suspiro de prazer, o chicote subiu e desceu na coxa indefesa “Plaft!”, Leonel sentiu a raiva aumentar “Assim não, porra!” ensaiou um passo pra frente, outra bofetada na bochecha, plena, estalada, sem dúvida. Outra vez fechou o punho, outra vez sufocou a porrada. Olhou a puta nos olhos. Castanhos. Calmos. Lápis, rímel, sombra. A ponta da língua outra vez convidou entre os lábios. O pensamento sem controle “Se eu te conheço alguns anos antes você não estaria aqui”, o chicote entra pelo elástico da cueca e vai abaixando. Ele vê o olhar da mulher seguindo a ponta do chicote, que roça os pentelhos, o começo do pau aparece, a veia saltada, viciada no veneno do desejo. A cueca cai. O pau esticado mostra quem é o macho ali. Ele agarra-a pelo braço, tenta puxa-la para si, e o chicote acende um clarão em seu rosto. E outro no ombro. E outro no ombro. E a voz ordena “De joelhos!”. Leonel obedece. O fogo purificador.

Sua língua agora lustra o couro preto da bota da puta. Ele não sente tesão, mas mesmo assim seu pau está todo esticado. Olhando para cima, ele vê o desenho da xota dela estufando o short de cetim preto. É lá que ele quer lamber. Ela percebe. O freguês tem sempre razão. Senta-se na poltrona, escancara as pernas, pede que ele beije suas coxas. “Mais pra baixo, escravo!” Ele sentiu o cheiro da fruta. Passa a língua encaracolada pelo começo da coxa e vai subindo. Ela deixa. Ele encaixa o nariz na virilha da mulher. É quente. Um beijo na virilha e o corpo dela treme, e o chicote cai em suas costas “Só quando eu mandar!”. A ponta da língua entra sob a bainha do short e sente os pelos aparados. O corpo da mulher se agita e ela se defende com o chicote “Plaft!”, ele beija o recheio do short “Plaft!”, ele sente que vai gozar, “Pára!”, mas ela tem outro freguês “Plaft!”, ele se deita de lado, o chicote controlado é como um banho de língua “Plaft!”, “Plaft!”, ele agarra o tornozelo coberto pela bota negra, e goza “Plaft!”, os olhos fechados, o maior segredo de sua vida. 

- Levanta, benzinho.

Leva alguns instantes até ele perceber que o “benzinho” é ele. Abre os olhos. Seu olhar segue as linhas finas do assoalho até a parede. Foi bom. O que haverá abaixo do rodapé?
 
 

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