PERDIDO NA MENTE
Lula Moura

Às vezes eu tenho vontade de abandonar tudo
e deixar a explicação numa nota de rodapé...
Romper o turbilhão de entulho,
e esquecer Nelson Rodrigues...
Não saber da “vida como ela é”...
Ranger num rastro de orgulho,
que resta quando lembro da última mulher...
A sensação de estar no escuro
diz nada, quando quero tudo...
O obscuro da falta de cor,
colore a capa do tecido que não lavei...
Umedecido, o gemido da dor
não vale a lágrima que despenca...
Neste momento já não sei o que sinto.
Só sei que sinto muito. E que dói...
A água que corrói,
é a mesma que arrebenta a represa...
Meu diário já não me diz nada.
E não sei mais se a primeira página
é mesmo a primeira...
O consolo da caneta à mão,
me diz que ainda estou vivo,
embora não sinta os pés no chão...
Já não penso em mim,
nas vezes em que me escuto...
Já nem sei se escuto o que penso...
A ferida se torna branda,
ao bater do vento...
Sublime, parece ainda estar aberta...
Falsos fantasmas me acompanham
com suas correntes...
Forte bater de passos,
ouço transitar em minha mente,
onde estou perdido...
Uma estranha espada me encurrala...

Se ao menos uma dessas pessoas que passam
me dissesse alguma coisa...

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