SOB A LUZ DO CANDEEIRO
Marco Britto

Madrugada, o Tempo correndo de um lado pro outro. Contando histórias, folheando as páginas da vida:

- Lembranças... Canoa ligeira talhando a negritude da lagoa, o som cadenciado das pás entrando e saindo d'água... O mugido do gado no curral, os bezerros reclamando as tetas da mãe... Os motores dos barcos de pesca de camarão cortando mansamente a tona das águas salobras de Boipeba... O cheiro de café em fogão de pedra...As batidas leves do mesmo mar, no costado da prancha, anunciando vento e ondas para surfar...

Som de passos cortando a madrugada duma cidadezinha linda de interior... Um sorriso maroto no canto da boca. O gosto dos lábios de uma morena no fim da balaustrada...Lampiões acesos, nuvens de insetos bailando à sua luz... A friagem descendo a serra vestida num manto branco. Relincho de cavalos, um touro fungando no pasto.

Gemidos e murmúrios escondidos nos finais de tardes...Uma cocheira, uma mulher... Sussurros e gemidos sob cobertores... Sofreguidão, suor, paixão!

O gosto da pinga, olor de fumo, cebola, alho... O paio pendendo do teto da venda. O riso sem dentes, o cheiro de suor, a capanga de brilhantes... Fieira de peixes sangrando o balcão, tilintar de moedas rolando no chão... 

Céu de estrelas... Anhangá, Caipora, Boitatá... olhos cravados na escuridão... Urutau chorando triste a noite que voa - grilos ciciam e sussurram.

O Tempo indo e voltando em tardes de ametista, confundindo a alvorada tímida do dia que nasce e devora a estrada sem fim...

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