Tempos de um Errado Verbo aMar
Márcia Ribeiro

PRIMEIRO TEMPO NO MEU VERBO
-Teu nome de aMar-

Num calvário transformastes meus sonhos
De tanto apego, de ti me fiz assombro
O terror das noites ensolaradas
Humilhação de tantos dias estrelados
Maldição de um rio seco
Encarnação da repulsa em teu leito

De mim só fizestes escárnio
Cobristes meu corpo de miséria
Secastes as águas do meu ventre
Julgou-me fraca aos teus pés
Jogastes ácido nas feridas
Me criastes como a um fantasma

Desfigurastes a face límpida
O pior de mim trouxestes à tona
Na trama lançastes meu vulto
À lama convidastes minha alma
Por dama trocastes meu nome
Deixastes no corpo a marca a me atraiçoar

Mas a vida é zona zombeteira
E dela não te livrastes
Dormistes na demência dos tolos
E da consciência te tornastes vítima
Hoje temes meu espanto em ver como vagueias
Foges do abandono, ruminando a própria teia

E então, ressuscito em meu o teu nome de aMar

 

SEGUNDO TEMPO NO MEU VERBO
-Os Cheiros e os Braços de aMar-

“...Às vezes eu me sinto tão sozinho
Com a cabeça fora do lugar
Ai chega você pra confundir tudo de novo
E eu não sei o que você quer...”

Mas é no seu corpo que me inspiro
É no pedido calado que imploro seus braços
Para sentir-me dentro de você
Não sou compreendida, talvez nem mesmo percebida
Mas não são os perfumes que você usa
Nem os tantos incensos acesos
Muito menos os priems ligados no seu quarto
Nem tão pouco os aromas que emanam de suas roupas
É muito maior que tudo e nada pode interferir
É a essência do seu cheiro que me fascina
Não há vento contra que me impeça de senti-lo
Não há vento a favor que me faça saciada
O cheiro em você!
Ah! Quantas vezes eu o escondi entre frases abobalhadas
Para que não fosse percebido o quanto fico inebriada
Quando de propósito, fingindo não perceber
Exala seu cheiro – homem!
Que chega aqui dentro, invadindo e penetrando
Me alimentando de você

“...Ganhar você e não querer
É porque eu não quero que nada aconteça
Deve ser porque eu não ando bem da cabeça
Ou eu já cansei de acreditar...
O meu medo é uma coisa assim
Que corre por fora
Entra, vai e volta
Sem sair...”

Tola é no que me transformo
Ao lembrar-me de todas as vezes que não o provo
Enterrada no meu orgulho, não aproveito você
Não me enrosco no seu pescoço como quero
Não me esfrego no seu corpo como roga meu tesão
Nego os sussurros e obscenidades que tenho pra você
Mantenho os olhos abertos para não ver seu sorriso safado
Defendo a tese molecular do universo em prosperidade
Para não correr o risco de confessar:
Só quero ser sua, me faça nutrida de você,
Preencha minhas fantasias de sua realidade
Rasgue minhas roupas na sua sabedoria selvagem
Blasfeme quando, já dominado,
Perceber a prosperidade do teu falo
Em farta vulva encharcada de mulher

“...Hum, que vontade de ter você
Que vontade de perguntar
Se ainda é cedo
Hum, que vontade de merecer
O cantinho do seu olhar
Mas tenho medo...”

Admire no espelho do teto a harmonia de nossos peles ainda coladas
Pergunte bem baixinho se eu sempre soube você
E me deixe feliz com a gargalhada do macho envaidecido
Que saberá ouvir a certa resposta da mulher ali entregue
Arraste-me até a água que verá correr pelo meu corpo
Brinque com a espuma que roubarei de sua pele
Ria quando eu me surpreender de sua nova vontade de mim
Afogue nossos corpos que não deixam a água passar entre nós
Deixe estas paredes conhecerem os ecos de dois devassos
Deite-se por sobre os lençóis amarrotados de nós dois
Suspire fundo, sorridente e me traga pra você
Ofereça à minha manha de fêmea saciada
Os afagos das mãos tão recentemente atrevidas...
Ah! Me convide para amanhecer em teu cheiro e em seus braços de aMar.

“...Mas, de repente eu me vejo sozinho
E minha porta fechada pro amor
Foi só um flash-back
Porque meu cigarro neste instante apagou...”

 

N.A."inseridos trechos de músicas compostas por Dalto e Cláudio Rabello"

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