SUPER-HOMEM
Claudio Alecrim Costa

Queria deixar algo para a posteridade. Qualquer coisa que me tornasse imortal, com as pessoas lembrando de mim admiradas e fascinadas. A idéia de morrer e ser esquecido me atormentava como um fantasma.

Com essas conjecturas entrei num banheiro público distraído. Estava vazio, exceto por um homem aflito que andava de um lado para o outro. Acreditando ter voltado à realidade me aproximei e tentei ajudar o atormentado sujeito...

- Posso fazer alguma coisa pelo senhor?
- Você é um desses que abordam homens no banheiro?
- Assim você me ofende!
- Desculpa...
- Estou vendo que alguma coisa o incomoda...
- Promete guardar segredo?
- Claro.
- Eu preciso sair daqui voando para salvar o mundo...
- Como?
- Super-homem, prazer!

Estava no banheiro com um lunático que poderia ser perigoso. O que fazer?

- Nunca entendi como não me reconhecem. Basta colocar os óculos e estou completamente disfarçado. É ridículo!
- E também sempre que o super-homem aparece você nunca está.
- Eu já pensei nisso também.
- Gosta da vida que tem?
- Não é ruim, mas gostaria de ter uma família...
- Família? As pessoas acham que o super-homem é gay...
- O quê?
- Não! Eu não concordo, quero deixar bem claro...
- Me sinto triste, isolado...

O homem alto e forte começou a chorar. Entrou um cara gordo e olhou pra gente de lado. Ensaiei um assobio e pensei numa conversa fiada entre homens...

- O que você acha da política econômica?
- O quê?
- É injusta para maioria?
- De que diabos está falando?
- Estou disfarçando –Sussurrei.
- Ah!

Ficamos novamente sozinhos.

- Não podemos ficar falando sobre sua identidade secreta na frente de qualquer um.

- Claro! Sou burro...
- Sempre achei isso...
- Acha mesmo?
- Estou brincando! – disfarcei.
- Queria ser otorrino...
- Tá louco? Você é imortal. Será lembrado para sempre...
- Besteira...
- Sou contador, ganho uma miséria e ainda escuto minha mulher reclamar dia e noite. Ninguém sabe que existo.
- Mas você tem uma mulher...
- Você pode ter quantas quiser!
- Devo ir agora...O problema é que não estou com minha capa...
- Então é isso? Aqui tem uma loja de fantasias. Podemos comprar uma capa.
- Acho que serve...
- Espera um estante!
- O que?
- Quem está ameaçando o mundo?
- Ainda não sei...Só fico sabendo quando chego no lugar. Lembra-se dos filmes?
- Claro!
- Vamos!
- Vamos!

Não sei se aquele idiota era mesmo quem dizia ser. A idéia de salvar o mundo ou mesmo uma pobre alma perturbada já me agradava.

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