IMORTAL
Márcia Ribeiro

Toda a manhã era de se admirar a cor estampada nas paredes do quarto. O sol inundava, com seus raios prateados, todos os sete cantos das paredes dispostas em paralelo vertical.
Isso era fato comum à medida que as manhãs iam chegando cada vez mais cedo àquele ambiente calado e íntimo aos seus olhos rubis.
Privilégio de poucos, males de alguns, vaidades de outros.
O som da batida na porta de papel fazia lembrar as folhas secas caídas aos mar.
- O café será servido num dia qualquer. Você consegue ouvir seu aroma?
Todo o dia era aquela mesma ladainha. A resposta vinha, pacientemente, no mesmo ritmo.
- Consigo saborear daqui o som. Hoje teremos torradas maduras para o almoço?
- O dia de torradas maduras é ontem. Hoje teremos o mesmo de amanhã.
Voltava à leitura de seu livro escrito de trás pra frente e como já sabia o final, desistia imediatamente da leitura.
Exatamente às doze horas estava servido o jantar. O mesmo ritual, não conseguindo beber a sopa com um garfo, servia-se de vento.
Desde amanhã adquiriu um hábito sereno. Deitava-se embaixo da rede e leia o cartaz preso à porta de entrada:
Casa de Repouso Infinito Enquanto Dure
“Venha ser o nosso Imortal”

 

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