FICA COMIGO?
Rita Alves

 

Fiz tudo como manda o figurino. Perdi 4 quilos, cortei os cabelos vermelhos, pintei com traços bem marcantes os meus olhos azuis, colori a boca de vermelho sangue, coloquei meus anéis de prata ch eios de detalhes e significados ocultos, procurei usar o vestido preto mais charmoso. Fingi que era mulher independente, vivida, de idéias diferentes, mente imaginativa, de bem com a vida e que curtia sexo casual. Ele todo largado, camiseta preta, calça jeans, cabelos desgrenhados, barba por fazer e all star azul. Inteligente, criativo, seguro, pouco ortodoxo e apaixonante. Foi a mistura perfeita para um explosivo. Fiz de conta que não sentia nada, mas depois de dois encontros fortuitos, a paixão foi aumentando, aumentando, até ficar do tamanho que não dá mais pra carregar dentro do peito. A paixão começou a vazar pelos meus olhos, minha pele, boca, tudo e fiquei assim, agonizando, na lona. O golpe de misericórdia foi quando ele disse que tinha sido enganado. Que a mulher que eu tinha inventado escondia a menininha sem graça e carente. Fiquei um tempo olhando para o nada tentando entender como é que ele tinha feito a grande descoberta. Na verdade não demorei muito neste pens amento porque foi fácil saber a resposta: eu tinha perdido o controle (sempre faço isso quando me apaixono). Tudo isso fez com que o encanto que ele sentia por mim acabasse. Ele odiava cobranças de menina apaixonada. Como eu disse antes, minha paixão vazava pelos olhos e o que antes era só brilho, virou lágrimas. Tantas lágrimas e soluços que até hoje quando me recordo eu choro com o mesmo sentimento, como se tudo tivesse acontecido há cinco minutos atrás. Só que não foram palavras ditas ao léu, ele carregou todas as frases com desprezo (ele tinha sido enganado, lembra-se?), e isso me destruía por dentro. Como se cada canto do meu corpo estivesse sendo dilacerado lentamente. Uma dor daquelas insuportáveis que dá vontade de morrer (já se sentiu assim?). Eu não conseguia esquecer o menino que tinha trazido de volta o amor adormecido e a idéia de não tê-lo deixava a minha visão turva e meu mundo virado de ponta cabeça. Não tive dúvida, procurei por ele uma única vez. Coloquei d rama na minha voz, doçura, amor, delicadeza “fica comigo?”. A resposta negativa dele fez eco na minha cabeça de um jeito que não tive outra opção a não ser matá-lo. E foi ali, com dois tiros no peito que eu me livrei dele, mas não do fardo de um amor que nunca vai morrer.

 

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