CARTA PARA MINHA MÃE
Luisa Jardim


Mamãe,

Estava aqui, me lembrando de você. Do seu sorriso, de sua gentileza, mesmo quando a gente tinha certeza de que estava muito cansada, com dificuldades para tomar, a cada dia, tantos remédios e repetir continuamente a quimioterapia.

Naquele tempo eu não entendia bem, era uma adolescente briguenta, inconformada com a situação, revoltada contra você por estar doente, mas hoje eu penso em como deve ter sido difícil para você não se entregar, não demonstrar revolta ... estar sempre serena.

E o pai? Apesar do sorriso que ele ostentava na sua frente e na frente das duas meninas, eu o vi chorando (escondido) quando pensava que não estávamos observando.

Outro dia eu vi uma amiga falando sobre seu irmão, que esteve em situação semelhante e que brincava, sorria, procurava animar cada um que ele se aproximava no hospital.

Então, eu me lembrei de você e entendi que vocês, mesmo cansados da luta e sem muita esperança, nos ofereciam o seu amor, que era o que tinham de melhor dentro de si e que, certamente, nos ajudou a atravessar aquele tempo tão difícil e nos faz, ainda hoje, tantos anos depois, sentir o seu calor, sua ternura e o seu carinho.

Queria ter você aqui para lhe dar, nem que fosse só um, beijo!

Sua filha menor

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