A PORTA
Humberto Raposa Celia-Silva

Era simples como uma porta simples. Lisa na frente, lisa atrás, nem uma ondulaçãozinha ou adornos luxuosos, pra ser mais exato nenhum adorno se quer. A única coisa que lhe chamava a atenção era um belo par de “maçanetas” que, no fundo, era o que conseguia determinar sua função. Era uma mulher simples, feita e de belas maçanetas. Algum homem um dia haveria de se interessar por portas de belas maçanetas! Elas sempre são vendidas para aqueles que não tem condições de ter algo melhor, e naquela época ela se sentia como uma porta a venda mesmo. Com seu pai, um fazendeiro medíocre com manias de grandeza que esperava enriquecer com sua filha única, que não tinha nada além de um belo par de maçanetas.

Um dia a garota saiu de casa para ir a cidade fazer compras e voltou ofegante. Disse que não era nada. Mas nos dias seguintes continuou saindo para fazer compras, sempre sobre o pretexto de ter esquecido algo, e a cada dia voltava mais ofegante. Por mais que insistisse o pai, ela jurava não ser nada. Só faltava esta! Além de lisa feito porta, esta menina está enlouquecendo? O pai já ficava injuriado com o comportamento da filha que agora passava o dia inteiro olhando da janela e saia todos os dias fazer sabe-se-lá-o-que na rua. Virou uma louca Varrida? Ah! Como fazia uma falta uma mulher na casa... talvez ela resolvesse o mistério. No dia seguinte a menina saiu de cara lisa dizendo que ia comprar o que faltava. O pai logo colocou um empregado ao seu encalço. Só observar e contar tudo o que ver, nada além disto.

Grande foi o espanto do pai quando o empregado voltou, pálido.

- O que houve? Me diga homem de Deus!

- Sua Filha...-parou ele tomando fôlego- ela não vai voltar...

- Mas como? O que aconteceu?

- A louca varrida fugiu com Mario...

- Quem?

- Marceneiro, fazedor de portas.


fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.