POETA ERRANTE
Lula Moura



Algo inquietante no peito do poeta bate, a todo instante, desde que nasce. Ora em forma de dor, ora de alegria, ora de contemplação: a centelha dispara o fogo que chameja, chameja... Mas, no fundo, é tudo alegoria, motivo para criar...

O corpo onde aporta a alma-poeta pode se mostrar tímido, recatado, politicamente correto, como na maioria das vezes mas também pode ser rebelde, explosivo. Por que não?...

Em atitudes intempestivas e errantes, a poesia pode transbordar fazendo-se parecer uma louca varrida. Mas, nem por isso menos bela... Ela provavelmente vai crescer e amadurecer junto ao ser, onde reside. O que importa é fazer arte, mesmo que nos dois sentidos... "É melhor ficar no vermelho algumas vezes, do que ficar no amarelo a vida inteira...", dizia alguém que não me lembro, um dia desses, numa rádio carioca... Meio por aí. Não é fazer apologia do erro, mas ele é inerente a nossa existência, sem dúvida. Sendo assim, virar as costas ao belo somente por ele revelar-se num ser aparentemente errante, não me parece algo sensato.

Cazuza era assim. Uma espécie de Poeta Errante, um rebelde itinerante dos caminhos diferentes mas nem sempre errados. Fez da música o veículo predileto para mostrar sua mensagem... Suas letras às vezes discordavam da sua irreverência, mas sempre tinham algo a dizer. Destemidas, elas não silenciaram nem na sua doença grave (AIDS), sem cura, que o levou cedo, aos trinta e poucos anos. Ao contrário, se mostraram mais ainda, como a doença (sem cura) até o final esperado...

Vou ficar devendo fatos biográficos. Minha intenção não foi falar do homem Cazuza, somente usá-lo como exemplo para que fiquemos atentos à arte sempre... Mesmo que rebelde, mesmo que errante, mesmo que poeta. Pois fazemos parte da mesma vida, do mesmo show...

"Vida Louca, vida... Vida breve.
Já que eu não posso te levar,
quero que você me leve..."

Cazuza




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