ESTILHAÇO
Inquieta

 

Ela depositou, com cuidado, o amor morrente em um lindo vaso de vidro e o mantém guardado na cristaleira espelhada. Todas as manhãs, logo ao acordar, se aproxima esperançosa, abre a tampa e espia dentro. Lá está o amor agonizando, todo tremulo e dolorido. Ela o acaricia devagarinho... sussurra palavras doces mas ele não a escuta mais. Fica lá, surdo à ternura dela, como um bom amor agonizante deve ser. Às vezes ele suspira um ai e ela corre, pressurosa, para se quedar ferida quando ele emudece indiferente.

Até que um dia, enlouquecida, ela estilhaça o amor e enterra o vidro no peito.


 

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