ÓCIO
Ubirajara Varela

Uma coisa que sempre me chateia bastante é a constante implicância de minha mãe com o meu tempo livre. Ela vive afirmando que eu deveria sair mais com meus amigos, freqüentar casas de entretenimento (leia-se bares, boates, etc), diz que ,no tempo dela ,os jovens ficavam o dia inteiro na rua, só apareciam em casa para comer, dormir ou quando precisavam solucionar algum problema como, por exemplo, dinheiro. Ela garante que o meu tempo livre é gasto de forma inútil. Justo ela, formada em psicologia, grande consumidora de livros sobre ócio produtivo e estas novas correntes.

Hoje, ao folhear os jornais antes de ir trabalhar, li uma matéria interessante. Segundo uma recente pesquisa realizada no exterior, as melhores idéias ocorrem na cama. Não no trabalho. Não na escola. Não na igreja. Não nas discussões. E sim na cama.

Dizem que a atividade na área criativa do cérebro aumenta e muito quando estamos deitados na cama. Apenas algumas mulheres, para variar, contrariaram a pesquisa ,dizendo que a hora mais criativa delas era quando estavam na manicure. Até entendo, é um bom argumento. Nos salões de estética são discutidos assuntos inteligentes e pertinentes e sempre surgem soluções para os grandes problemas que assolam a nação, e porque não falar em soluções de ordem global.

O cientista da matéria (que tem um daqueles nomes estranhos cheio de consoantes, algo tipo SWAZNTICS) diz que ,quando estamos relaxados, longe das pressões cotidianas, ou nos nossos sonhos, produzimos combinações originais de idéias que podem parecer surreais, mas que, de vez em quando, resultam em uma solução incrivelmente criativa para um problema importante.

Sim. Faz sentido. Principalmente se voltarmos ao exemplo das mulheres na manicure. Deve acontecer um estímulo tão grande na área cerebral, no lóbulo responsável pela criatividade, que permite que elas saiam com unhas coloridas, penteados maravilhosos, máscaras faciais deslumbrantes, além de informações sobre todos os acontecimentos recentes e seus desdobramentos possíveis.

O tal pesquisador SWAZNTICS ainda afirmou que as pessoas precisam reservar pelo menos uma hora do seu dia para elas gastarem consigo mesmas. Eis que voltamos ao ócio produtivo e criativo.

Pensando sobre isso ,chego à seguinte conclusão. Eu gosto de gastar essa tal hora deitado, pés pra cima, assistindo a bobagens na televisão, comendo e bebendo alguma porcaria, ou simplesmente olhando para o teto e pensando em nada. É quando tenho boas idéias. Este é o meu momento de ócio criativo. E minha mãe? Das duas uma: ou ela gasta a sua hora diária para ócio produtivo me chamando de ocioso, ou no salão de beleza, junto das outras mulheres que discordaram da pesquisa.

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