O SILÊNCIO
Inquieta

 

Ela acordou e tropeçou no silêncio dele. Parede invisível, quase redoma, ela se sentia sufocando. Levantou devagarinho, sorrateira, e, sorrindo, tentou seduzir o silêncio, fazer com que ele adormecesse para poder escapar. Mas os silêncios, quando são grandes, costumam ser insensíveis e ela não conseguiu encanta-lo.

Ele estava ali e não arredava pé.

A mulher usou seu vestido mais bonito, soltou os cabelos, usou o brilho mais alegre e postiço nos olhos , se salpicou de esperanças e saiu para dançar

Rodopiou a noite toda. Todos os braços e todos os abraços passaram por ela. Levantou a saia e borrou a boca, manchou os olhos e gemeu baixinho.

E quando voltou, quase amanhecendo , ainda com as pernas trêmulas e as coxas úmidas, o silêncio dele ainda a esperava.

E a engolfou inteira.

 

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