CRÔNICA DE UM MEIO DE TARDE
Marco Britto

 

Meio de tarde de um ônibus lotado de pressa louca de um motorista louco para chegar a lugar algum que seja do interesse de quem quer que seja. Um não aguardar a subida de pachorrentos passageiros do disputadíssimo ponto onde todos esperam sem esperança de serem vistos ou notados.
O arrastar violento-agressivo do veículo e o som do baque de um corpo indo de encontro à lataria do carro. O grito histérico da mulher histérica perdendo-se na distância de sons indistintos do ponto deixado para trás onde ninguém espera ser visto ou notado.
Meio de tarde de um ônibus lotado de pressa louca de assaltantes loucos para encontrar, em algum lugar, algo que seja dos seus interesses, seja o que for. Um não esperar o saque lépido de lépidos meliantes dentro de um ônibus onde muitos esperam com redobrada esperança não serem vistos ou notados .
O engatilhar violento-agressivo de uma pistola 0.9 mm e o som do baque de um corpo indo de encontro ao assoalho do carro. O grito histérico de uma mulher histérica perdendo-se na distância de sons indistintos no meio de um ônibus lotado de pressa, de loucos, de violência, de motoristas-assaltantes-de-pontos e de pachorrentos passageiros. Todos passíveis de serem notados, vistos e reparados.
Meio de tarde de uma cena comum num dia comum. O grito histérico do pequeno jornaleiro perdendo-se na distância de sons indistintos de uma sociedade pachorrenta em resolver seus problemas, suas dores, sua vida em estertores....

 

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