ANISTIA
Caio Beraldo

Anistia. Esse é o tema. Anistia. Já olhei no dicionário. Mais de uma vez, na verdade. Nada me ocorreu. Anistia. Concordo que o tema é adequado para promover uma "volta", mas já faz algum tempo que estou pensando e nenhuma idéia me parece suficientemente boa.

Volta? Sim, volta, retorno, regresso. Um dia foi criado um grupo onde as pessoas poderiam publicar seus textos, receber elogios e críticas e até fazer parte de um livro. Um dia juntei-me a este grupo. Usei um pseudônimo, escrevi um texto bobo que acabou agradando. Fiz amigos, mas escrevi apenas mais algumas poucas vezes. Afinal, eu já conhecia os membros e me encontrava com eles com freqüência, então em teoria eu não "precisava" escrever para participar de suas discussões e encontros.

Na época foi muito bom. Tinha bons amigos, com quem mantenho limitado contato até hoje, conheci pessoas muito interessantes, entre ela minha namorada. Poderia dizer que devo bastante ao grupo, então. Mas a falta de tempo devido à correria da vida de quinto anista de engenharia somadas às preocupações de um estagiário que busca a efetivação no emprego me impediu de escrever o quanto eu gostaria.

Outros fatores influenciaram, e apressaram, meu afastamento do grupo. Alguns dos grandes amigos, como eu assim os chamava, mostraram todo o seu egoísmo e irracionalidade frente a um problema simples. Um problema simples com uma pessoa fez com que o clima se tornasse insuportável. Ela, muito querida (será mesmo?), foi apoiada por outros, e eu de uma hora pra outra não era mais bem-vindo nas reuniões semanais. Segredos, confidenciados enquanto éramos amigos, se transformaram em assunto de mesa de bar.

Pensando melhor, será que quero voltar? O pivô da confusão não mais faz parte do grupo, mas minha imagem não deve ser das melhores. Afinal as pessoas discutiam o que acontecera e eu não estava lá para contar minha versão dos fatos. Muitas das pessoas que com o tempo mostraram sua verdadeira índole ainda permanecem lá.

Por outro lado, agora, com emprego garantido, diploma na mão e, portanto, mais tempo e menos preocupações, retomei o gosto que tinha pela leitura. Com um certo incentivo eu poderia retomar também o gosto pela escrita, pela redação, algo que me dava tanto prazer alguns anos atrás e que se perdeu nos últimos tempos. Grandes pessoas e bons amigos ainda fazem parte do grupo. Eu acredito que amadureci e, em bom português, cago e ando pro que passa pela cabeça das pessoas que não gostam de mim, bem como pro que pensam seus asseclas.

Então essa é minha decisão: anistie-me, se eu ainda for bem-vindo.


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