CONSUMISMO CEGO E FATAL
Bruno Freitas
 
 

Vivemos num regime capitalista e acreditamos nas campanhas divulgadas pelo boca-a-boca de alguém que ouviu uma autoridade no assunto dizer alguma coisa que possa ter parecido com uma advertência. Cada vez que ouvimos dizer que recipientes de plástico no microondas pode provocar câncer a longo prazo, que os medicamentos genéricos não são a mesma coisa que os originais, mais caros, ou que os transgênicos não são realmente o que parecem ser. Tudo pode não passar de uma invenção maldosa da nossa sociedade capitalista, querendo nos impedir de consumir um produto mais barato nos fazendo vítimas da mesma sociedade que nos rege e domina.

Acontece que toda vez que colocamos um recipiente de plástico dentro do microondas, estamos consumindo um produto infinitamente mais barato que o vidro. Isto me leva a crer que os fabricantes dos recipientes de vidro inventaram um boato para nos condicionar novamente a consumir os recipientes de vidro ao invés do plástico mais barato.

O mesmo acontece com o medicamento genérico, que chega a ser metade do preço do original. Recentemente, em matérias jornalísticas das noites de domingo, foram anunciados que alguns remédios não contém o mesmo princípio ativo e medicinal do remédio original. Alguns chegam a acreditar que se genérico fosse bom não teria esse nome. Mas pode ser que as industrias medicinais tenham forjado esse boato, calcado em explicações de médicos e jornalistas, de que falta um princípio ativo por ai.

Quanto aos transgênicos, é impossível acreditar que uma farinha de soja, de rosca, mandioca, ou qualquer outro produto natural, possa ser produzido artificialmente. Acontece que já estamos consumindo transgênicos a décadas, porque todos esses produtos vendidos em supermercados já são embalados a vácuo, produzidos no vácuo, e têm vácuo como nutrientes. Produto natural mesmo, só açúcar maskavo, farinha de centeio ou pão integral, vendidos nas lojas especializadas na esquina mais obscura da sua rua, e às vezes naquela prateleira dos fundos do supermercado.

Estamos sofrendo uma fatalidade, e nossos algozes são os empresários das multinacionais que dominam o mundo. Alguém está nos passando para trás, quando explicam que o produto mais barato não mais detém o principio ativo que nos faria tão bem, ou que em longo prazo este produto nos fará tão mal que estamos correndo risco de vida.

O mesmo aconteceu com a maconha na época de sua proibição. Antigamente, quando não existia o jeans Levis, nem outros tecidos sintéticos, nossos antepassados usavam as fibras do cânhamo, que origina a erva má que faz a cabeça da garotada. Quando foi proibida, a maconha, os tecidos sintéticos estavam sendo testados e aprovados por todas as sociedades de consumo, que diziam ser mais resistentes que o cânhamo. O mesmo aconteceu com os calmantes como valium, ou prozac, que eram recém lançados no mercado. Era preciso a proibição de uma erva barata de terceiro mundo, que poderia servir tanto como calmante ou como fibra resistente. Até mesmo os Estados Unidos voltaram a plantar o cânhamo durante a Segunda Guerra Mundial, quando seu maior fornecedor de tecidos sintéticos, o Japão, entrou em guerra contra os aliados.

Parece que sofremos com a falta de informação do que faz bem e do que faz mal. O que na verdade importa é o que consumimos e em que quantidade. Não importa se estão inventando uma mentira sobre o plástico cancerígeno, ou do genérico de brinquedo. Importa sim, o consumo do produto que estão nos oferecendo a um preço bem maior do que poderíamos pagar. Pagamos sim, com nossa ignorância sobre tais assuntos.

O importante é manter-nos mal informados e confusos, num regime de medo total. O medo pode ser um grande aliado, mas no nosso caso, é um atenuante. Para as multinacionais, existe apenas o medo do fim de nosso consumo. Talvez por isso, os comunistas tenham esse semblante de comedores de criancinhas. O temor do comunismo, ou socialismo, era na verdade o medo do fim do consumo. Por isso o nosso capitalismo não é tão diferente do comunismo ou socialismo. Sofremos, talvez, de um mal muito maior do que os comunistas sofrem com a escassez de comida, sabonete e papel higiênico. Sofremos de um consumo direcionado para o que querem que consumamos. Estamos condicionados a consumir tal produto a tanto tempo, que nem mais nos questionamos a razão.

Por isso, quando aparece um produto concorrente, mais barato e com o mesmo princípio ativo, o sinal vermelho do capitalismo soa, alertando as multinacionais para um possível fim do consumo. Então aparecem campanhas contra os plásticos, genéricos e transgênicos, e até mesmo proibindo uma droga do terceiro mundo, muito mais barata que os calmantes e anti-depressivos por aí.

 
 

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