O VIL SIGNIFICADO
DA PALAVRA FATALIDADE
Francisco Pascoal Pinto de Magalhães
 

Aconteceu sem querer. Fazer o que se não houve dolo, premeditação, intenção de matar ou outras dessas definições técnico-jurídicas comuns ao linguajar dos advogados?

Infelizmente, como disse vovó, o cão atentou e o revolver disparou acidentalmente. Se bem que, naquele dia fatídico, brincávamos daquela brincadeira estúpida! De roleta... não digo russa (que poderia ser ucraniana já que se joga apontando o cano para o crânio).

Fazíamos uma roleta diferente: girávamos o tambor do trinta e oito do meu pai com uma bala na agulha, apontávamos para o pé, e apertávamos o gatilho. Se disparasse, no mínimo você passaria um tempo sem ir à escola e também sem jogar bola. Uma vez acertei na mosca. E a bala picotou. Quase me borrei todo.

Já havíamos decido que iríamos mudar de brincadeira quando a arma caiu de cima do armário e a bala se encaixou na garganta do mudinho. E ele, que nunca emitia um sonzinho sequer, deu um berro gutural de boi em matadouro que me deixou todinho arrepiado ( as vezes acordo no meio da noite ouvindo aquele berro) e se espatifou no chão como um fardo.

No enterro do mudinho pela primeira vez na vida entendi o significado da palavra fatalidade. O mudinho, coitado, nunca vai entender isso.

 

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