CHEGA DA AUSÊNCIA DE LETRAS
Leila de Barros
 
 

Compro o jornal e não te avisto por lá. Há quanto tempo também não me vejo nas colunas de literatura. Parece-me que tiramos férias da escrita. Inspiração também tira férias.

Constato com certa calma e serenidade que de fato, o tempo tudo modifica, mas as marés vão e retornam trazendo uma seiva espumante, que nos permite brindar, mergulhando nossos corpos sedentos na água fria, conclamando-nos a olhar para as esfinges da alma.

E nos entremeios, ficamos assim, de corpo e copos repletos de água e sal, batizados mesmo! O sal que nos mantém vivos e pulsantes.

A teoria do caos tem arrastado as marés para mais perto dos continentes e nos levado às ilhas de nós mesmos. Habitamos com o medo e a busca. Como exploradores eternos.

Onde andarão nossos textos? Em que cosmos flutuam eles quando não saem publicados? Talvez ocultos em alguma banca de esquina, em algum boteco com literatura de mural, em algum sebo, ou na capa do toureiro falido.

Toureamos com eles, com medo da exposição, com medo de manchar o papel ou a tela, ou nos falta o recheio, o conteúdo, a saliva.

Houve um tempo em que publicávamos tudo; desde os folhetins comuns, os contos de bordéis e os romances que escorriam mel pelos rodapés, mas sentávamos na calçada e ríamos de nós mesmos com a mochila cheia de esperança e a garrafinha de água.

A areia irrequieta apagou nossos versos, mas as ondas sinuosas lançam nova inspiração, e ainda que de modo compulsório nos obrigam a escrever nos muros e escancarar a alma nos jornais.

Deve ser apenas um hiato que precede uma nova edição, nos permitindo uma varredura em nossos estilos, textos e alamedas.

Conheço teus pontos, espaços, parágrafos e vírgulas. Desconheço meu novo estilo, mas sigo escrevendo monografias que serão publicadas brevemente, quando meu corpo e meus copos estiverem saciados de tinta e indagações.

 
 

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