CARPIDEIRA
Luciana Pareja Norbiato
 
 

Guardando o defunto, as velas tremeluziam e a chuva torrencial ajudava no clima funesto. Morto pela cachaça, os homens da família bebendo o corpo com cana pura, tradição passada de velório para velório.

Ninguém notaria uma sombra que se ria em gotas, quase gargalhando, num espasmo de dor muda. Uma sombra que o conhecia bem, quando ninguém esperaria que conhecesse. Um vulto de mulher, um corte de curvas que tantas vezes se embriagara do seu copo, do seu corpo. Morto agora.

A viúva franzina e sem-graça parecia tão conformada. Só a sombra no canto doía, tresloucada, pela perda.

 
 

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