FELICIDADE ETERNA
Glatson
 
 

A solidão sem fim, dos anéis de Saturno à enorme lua de Júpiter: toda essa dimensão que comporta o vazio inexplicável da ausência. Ausência de vida eu não diria, mas ausência de esperança e de poesia; essas manias pertinentes ao homem, este ser ausente. Observo o céu lá fora. As estrelas, os planetas, os asteróides, todos esses pontos minúsculos e luminosos soltos no espaço. O brilho de alguns nos chegam, porém já não mais existem - tamanha imensidão de tudo isso. Dizem que Deus fez o homem por se achar extremamente só, sem ninguém para conversar ou para compartilhar tudo isso; somente a companhia dos sóis, e luas, e buracos negros. Tinha a eternidade por toda a vida, mas a vida era vazia sem ninguém.

No vazio também me encontro, e, depois dele, infinitas possibilidades no tempo que me resta, ou que me fora concedido aqui nesse universo. Entretanto, nada é tão simples. A vida nunca foi simples. "Depois da bonança vem sempre a tempestade". E minha tempestade veio. Foi numa noite silenciosa. Estava como hoje, a observar estrelas. Eu que não era nada sentimental de guardar recordações. De repente, minhas vistas turvas, não distinguiam mais claros pontos luminosos. Todos tornaram-se uma só luz, como se o universo inteiro estivesse reduzido. Um vento frio passou por mim e parecia ter levado algo, para sempre. Duas horas depois a notícia de tua partida. Em teu rosto o espanto do último instante; o instante eternizado de teu olhar em minha memória, para sempre.

O eterno dói, como dói ficar preso a uma vida sem sentido, sem retorno. O eterno retorno de alguém que nunca chega, que nunca mais virá. A eternidade fria e serena, a dizer coisas inaudíveis e indecifráveis. Que haverá além das estrelas? Além da vida? Faço perguntas. Continuo sem respostas, e bem provável continuarei.

Hoje, a eterna memória é minha pior vilã. Momentos eternizados em minhas entranhas: cartas, fotos, presentes; cânones perfeitos de nossa existência. Renego todos estes fragmentos de vida, que não fazem mais do que me atormentar. Renego tudo isso. Sei que algo maior me espera. Talvez uma outra chance, ou um outro lugar onde seríamos "felizes para sempre".

Meus pés no chão, no entanto, faz meu olhar voltar-se aqui para baixo: para os campos, pradarias, mares, rios; para a eterna beleza terrena. Olho tudo e só vejo coisas malsãs. Minha eternidade é outra. Minha vaga existência está fora desse mundo, além do vazio onde Deus pousou sua mão.

Meus pés no chão me levarão de encontro a eternidade. Tomo a decisão que mudará minha vida. Passo pela sala triste, e entro no quarto escuro. Pela janela diviso uma luz tênue tentando me encontrar; fujo de sua presença. Abro a gaveta da escrivaninha e a encontro, reluzente. Mesmo nas trevas a compreendo: a arma fria, engatilhada, passagem para o outro mundo. Em dois minutos entrarei na eternidade, e estarei para sempre entre os anéis de Saturno e a enorme lua de Júpiter.

 
 

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