MENINAS CHINESAS
Mairy Sarmanho
 
 

Em 1979, a China adotou a política do filho único, que admite apenas um filho por casal. No campo, a mulher casa e vai morar com os sogros e o marido, já o filho homem casa e traz a mulher para morar com ele, aumentando a produtividade e a renda familiar. Isso condenou e ainda condena milhares de meninas ao abandono e à morte.

Há oito anos atrás, um grupo de repórteres foi à China e visitou orfanatos onde meninas eram abandonadas pelo simples fato de terem nascido mulher. Igual destino não tiveram outras tantas, afogadas ao nascer, abandonadas ao relento em caixinhas de sapato e condenadas a serem devoradas por predadores.

Mas não pensem que aquelas destinadas aos orfanatos tiveram melhor destino. Durante a reportagem foi constatado que as pequenas eram amarradas em bancos e colocados penicos sob suas pernas, condenadas a um mundo de silêncio, imobilidade e dor. Pior, descobriram um "quarto da Morte" onde as meninas doentes eram abandonadas, sem água ou cuidados, para morrer de inanição. Essas crianças não tem nome, não existem, não fazem parte da estrutura social chinesa. Não tem valor algum...

Atualmente existe uma campanha internacional para adotá-las, algumas tem a sorte de serem carregadas por braços estranhos para, quem sabe, terem destino melhor, isso pela quantia de três mil dólares a adoção. Isso é o que vale para o governo chines a vida dessas pequenas mulheres!

Pior, hoje em dia o governo descobriu que, ao crescer, são mão-de-obra e as condena a uma vida de trabalho forçado, mantidas em fábricas com música a todo volume para que não durmam à noite e produzam mais...

Nasci mulher. Num mundo onde acontecem crimes como esse, não consigo ser feliz. Não existe felicidade com tanta dor e sofrimento em volta. Sinto muito, não há o que comemorar, apenas chorar e pedir clemência a Deus que liberte as pequenas meninas chinesas de seu cativeiro e as leve para seus braços acalentadores.

E se não existir Deus?

 
 

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