UM CORPO
Márcia Ribeiro
 
 

Hoje o coração não bate
Suspira apenas
Não! Ainda não...
Sussurra por um sopro, mesmo que leve, de esperança
Essa mesma que, ontem, vivia aqui,
Lépida criança de traços traiçoeiros
À margem de um mundo desacreditado,
Preguiçoso e rigorosamente desvairado

Hoje os olhos estão semi-cerrados
Observam apenas
Não! Ainda não...
Buscam o azul, ainda que pálido, na face da palavra
Essa mesma que, ontem, corria pelos quintais
Intrépida adolescente de curvas formosas
Dona de uma verdade cruelmente insana,
Roendo as unhas, em apelos de carne e fama

Hoje o corpo morre mais um pouco
Lembra-se de um tempo distante
Quando se cobria de verde
E mantinha-se distante de ser maduro
E luta, agora, para não se perder no ontem
E poder encontrar-se no amanhã

 
 

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