NO ESCURO VENTRE DA TERRA
Bárbara Helena
 

A tia mandou entrar que a chuva estava vindo. Raios corriam pelo céu cinzento anunciando o prometido pela voz severa: Temporal.

Escondidos embaixo das árvores, espiavam o desarranjo da natureza, as nuvens correndo, riscadas de clarões. Depois vinha o barulho assustador e a terra estremecia.

Tom espiou as gentes da casa fecharem as portas e janelas, arregaçando cortinas para dentro, passando ferrolhos. O medo supersticioso das tempestades que passa através das gerações de camponeses.

Ao longe, vozes gritavam seus nomes, mas eles estavam surdos, presos ao ancestral fascínio pelo perigo. Ao lado dele, Ana, assustada e trêmula, mas firme na disposição de enfrentar a chuva.

De repente, a água começou a cair em bagos grossos, formando poças no barro. A árvore pingava como um imenso guarda-chuva furado e os cabelos e roupas foram ficando encharcados.

Agarrou a mão dela e espiando as janelas seguramente fechadas, correu para o meio da tempestade. Deixaram-se ficar estáticos, desprotegidos, diante da fúria do tempo. Depois, começaram a girar, acompanhando o vento e a água que escorria por seus corpos adolescentes, molhados, primitivos, rindo da travessura de não se proteger do esperado.

De repente pararam, se olhando, mal conseguindo ver as figuras através da cachoeira que descia por eles. E se abraçaram, misturando umidades, ainda rindo, ainda inocentes.

As mãos correram pelos corpos molhados e se descobriram. E as bocas se encontraram. Ainda chovia muito quando procuraram a moita perfumada e se deitaram como homem e mulher.

Ao longe os trovões diminuíam, a água secava nos beirais e um sol tímido aparecia na terra, semeada em seu ventre escuro de renascimento.

 

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