POR ALGUM FACHO
Bruno Pessa
 
 

Durante vários anos, a caminhada se fez inabalável, certa e constante. De um dia para outro, as luzes se apagaram. Após uma longa jornada, a vontade de se recompor superava a necessidade de seguir adiante. Mas depois, o imobilismo passou a incomodar, como um alarme indefectível. Todavia, os horizontes permaneceram em total escuridão.

Os atributos ainda são impecáveis. Os envelopes traziam o resumo de feitos e habilidades, copiado tantas vezes quanto fossem os balcões que o recebessem. Porém, estar em pé na penumbra é tão confortante quanto atravessar sozinho qualquer avenida, sendo completamente cego. Pouco podia ser feito, sem que se pudesse contar com a intervenção de decisivas mãos que o indicassem por onde ir.

Hoje ele continua vagando, afinal parado não se sai de onde está e de tanto andar talvez apareça uma porta entreaberta. Como não pode calcular quão extensa é a travessia, não lhe falta fôlego para o desafio. Só falta mesmo alguma luz, não que espere pelos holofotes da fama; uma simples vela, que oriente suas andanças, já é suficiente.

 
 

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