FELICIDADE E ESCURIDÃO
Mairy Sarmanho
 
 

Tateio, no escuro, buscando meu destino. Às vezes bato de frente com o receio, o medo, a raiva. Mas continuo meu caminho, pulando por cima das conversas inúteis, do marasmo, da falta de oportunidade, tentando alcançar o portal que chamam felicidade.

Ao contrário do que dizem as más línguas, felicidade existe, sim. E não está nas pequenas coisas mas nas grandes conquistas: o grande amor de sua vida, o lançamento de um livro, a festa de formatura, a carteira de motorista... Tudo isso, junto, é a felicidade verdadeira. O problema é que as pessoas não conseguem separar o joio do trigo e terminam engolindo tudo como se fizesse parte do mesmo cardápio. Se você souber separar os ingredientes vai perceber que a felicidade existe, e é fantástico o seu sabor.

Não pensem que sou sempre otimista: tenho lá meus dias de mau humor, onde prefiro grudar no computador e trabalhar feito uma louca do que sair para rua em busca da felicidade. Porém tenho mais dias bons do que ruins, porque aprendi a dividir os ingredientes e não costumo engolir desesperança e outras coisas amargas.

Vejo a felicidade até no escuro: tateando, toco sua face tímida, o nariz gelado, olhinhos grandes e vivos, um pouco peluda, talvez. Porque, para mim, Felicidade é uma cachorrinha amarela e branca que veio dentro da barriga de sua mãe que recolhi da rua, late sem parar cobrando e exigindo atenção e está sempre feliz como seu nome.

Espero que não pensem que sou louca, porque não sou. Sou apenas uma artista plástica que virou escritora e procura, nas palavras, uma chance de permanecer alguns anos na memórias das pessoas. Isso é ser feliz. Isso é esquecer a escuridão. Isso é procurar a luz.

E a luz está sempre em nosso coração!

 
 

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