CÁ ENTRE NÓS
Daniela Silva
 
 

Confesso que me sinto mais sozinha do que jamais me senti. Confesso que todos os meus pensamentos sobre liberdade, sobre "seguir o coracao", sobre "nao ter medo de ser feliz", toda essa balela sempre cai por agua uma hora ou outra. E se quiser um conselho, pense, calcule, defenda-se. Se eu tivesse feito assim, nao o teria visto partir com pesar. Como me arrependo de ter deixado a cabeca pra tras, de ter seguido a vontade do corpo e os impetos do espirito . Meia duzia de noites juntos? Isso foi o minimo. O problema e que eu abri minha alma, eu deixei que ele entrasse na minha vida pelos poros, deixei que me arrancasse o vestido e as defesas. O problema e que eu nao tive medo. E eu ate me gabei disso por um tempo. Senti-me no topo das mulheres pelo meu equilibrio emocional, pela minha independencia feminina e pela minha coragem. Mas agora que ele partiu, nada disso me faz companhia, e eu simplesmente me sinto so.

E confesso que nao choro pela ausencia dele na sombra do meu quarto escuro. Alias, nao choro nunca. Pensando bem, confesso que se me desesperasse, se jogasse os cristais as paredes, gritasse alto o nome dele e rompesse em solucos, talvez eu me sentisse melhor. O que me incomoda mais e essa tristeza velada, esse no na garganta que nunca se desfaz, a prova mais profunda de que meu espirito esta calejado, de que nao me acabo mais no presente por aquilo que ja me feriu tantas e tantas e tantas vezes. E triste um espirito calejado, sao tristes as coisas a que ele remete.

Confesso que se nao o chamo de traidor, se nao esbravejo a deslealdade e a patifaria que ele me cometeu, nao e pela grandeza de meu espirito. Eu o xingaria dos mais variados nomes se ele tivesse me traido, se tivesse sido desleal ou patife - e seria um bom consolo. Mas ele foi justo, correto, sincero. Nao me manteve atada a um relacionamento acabado por nem mesmo 5 minutos. Informou-me gentilmente do fim, com toda a educacao e classe que me era merecida. Confesso que preferia sentir-me revoltada a indiferente. Mas ja nao e a primeira vez que nao me restam muitos caminhos a optar.

Por isso continuo afirmando: o seu corpo e realmente seu, faca dele o que bem entender. Vulgarize sua boca e todo o resto se quiser, voce e realmente livre pra fazer isso. Mas nao vulgarize o seu amor. Nao banalize o que pode ser unico, pense antes de chamar qualquer par de calcas de seu. Pode nao significar nada uma vez, mas quando nao significar nada por 25 vezes, voce vai se sentir vazia.

E confesso que cansei de conversar, agora esta frio e quero ouvir o Chico. "Nao se afobe nao, que nada e pra ja". A voz do Chico sempre me acalenta os desamores. Vou deitar na cama vazia e pensar em nada ate dormir, por que amanha sempre da pra pensar em algo melhor do que nada. No tempo, na academia, no transito, no trabalho, no estresse. Vai parecer que nada aconteceu. E isso que eu quero que pareca.

Entao voce nao conta pra ninguem, e assim parecera.

 
 

email do autor