ONE WAY TICKET OUT OF HERE
Felipe Tazzo
 

- Meu, estou fora, e pronto!

- Mas para onde você vai? Você tem certeza? Olha...

O tom era maternal, mas bronca era função paterna explícita. Um grandessíssimo de um, você-vai-se-fuder-na-vida-olha-que-eu-estou-avisando. Pouco importava. A gente ama os pais assim mesmo, mesmo que eles fiquem embutucados dentro de outra pessoa.

- Não sei pra onde vou, não quero saber. Quando chegar lá, descubro.

A relação pai e filhos estava ficando mais explícita, agora que o comportamento adolescente transbordava.

- Você não pode estar falando sério. A gente não simplesmente levanta e vai assim, do nada.

- Por que não? Eu vou, ué.

- Mas, assim, sem mais nem menos? E o dinheiro?

O vil metal, sempre ele.

- Eu dou um jeito.

- Mas... não é bem assim, não é assim tão simples. Você tem que ter algo em que se apoiar, sabe, como, algo assim para ter um rumo.

- Ah, agora eu preciso de permissão do governo para tirar o time de campo? Tem que preencher formulário em duas vias, carimbar na repartição pública mais próxima, foto 3 x 4, xerox do CIC, do RG e duas tampas de margarina?

- Não também não é para tanto... Mas, sabe... você precisa ter algo com o que...

- Isso aqui tá um porre, não tem nada para mim aqui! Por que eu não posso simplesmente ir? Eu sou livre, alguém vai sentir minha falta, por acaso?

- Pô, eu vou...

Aí, o tom do discurso dá aquela guinada, as armas caem por terra.

- Oohhhhh... Você quer um abraço?

- Não, sai fora!

- Ah, você quer que eu sei, vem aqui, vem.

- Não, me larga, seu mala!

Os dois riem do ridículo da situação. Silêncio por um tempo.

- Mas é sério.Eu preciso cair fora. Estou tendo surtos psicóticos aqui. Não tem futuro.

- É, eu sei que não... Vai lá, eu sei que vai te fazer bem. Mas não larga tudo para trás assim de qualquer jeito. Vai com alguma segurança. Pelo menos algo no que você possa se apoiar.

- Eu entendo o que você está dizendo. Mas isso me dá a impressão que até para desistir eu preciso pedir permissão.

- Não é bem assim, você sabe que... Ah... Tem razão, eu entendo. Parece que tem que ter carimbos num documento para poder fugir. Mas você sabe que precisa, não sabe?

- Sei. Relaxa. Eu vou pensar em alguma coisa.

 
 

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