FOTOGRAFIA
Paulo Henrique Pampolin
 
 

Até os 26 anos de idade, não tinha a menor idéia do que iria fazer de minha vida. Aquelas respostas que dava quando criança ao ser questionado o que iria ser quando crescesse, já tinha me esquecido. Maquinista de trem, médico, engenheiro e outras que nem me lembro mais. Imagine eu com esse pavor de sangue sendo médico! Nem pensar!

Voltando de Roma, onde pretendia viver, após uma temporada morando em Londres, por motivo de força maior, leia-se, força de uma deportação, fui procurar asilo na casa de amigos. Aí está a ironia do destino. O apartamento onde moravam meus amigos, ficava no sétimo andar de um prédio que tinha uma agência de fotografia no quinto andar. Sobe e desce de elevador, conheci Clóvis, brilhante fotógrafo, cidadão gente boa, dono da agência. Num belo dia, me convidou para fazer um bico de motorista, já que tinha que fotografar a rodovia de São Paulo ao Rio de Janeiro. Claro, estava vivendo de bicos, com a intenção de conseguir dinheiro e voltar para a Europa. Ganharia uns trocados e faria um belo passeio.

Aquela viagem mudou minha vida para sempre.

Apesar de 400 km, a viagem durou um dia todo, pois parávamos o tempo todo para fotografar as obras na rodovia. Sujeito simpático, libriano como eu, culto, fazia o trabalho como quem pratica um hobby. Isso me chamou a atenção. Era diferente. Todo mundo que via trabalhar, sempre reclamava de estar trabalhando. Me identifiquei com o jeito do cidadão.

Voltamos no dia seguinte. Uma semana depois me chamou na agência. Desci lá e me questionou se não queria aprender fotografia. A agência estava crescendo e logo precisaria de novos fotógrafos.

- Mas eu? Não entendo nada de fotografia! Nunca tive nem mesmo uma câmera Yashica em casa!

Explicou que era justamente por isso que estava sendo convidado. Não queria um profissional formado, pois este vem com certos vícios da profissão que seria mais difícil moldá-lo ao estilo da agência.

Como estava sem fazer nada, aceitei ser aprendiz e ainda ganhar uns trocados. Quem sabe logo teria o dinheiro da passagem de volta para Roma. Comecei lendo uma velha apostila dos anos 60 que ele tinha, onde ensinava a teoria. Diafragma, obturador, enquadramento, flash, pauta, linguagem fotográfica, nomes que não tinha idéia do que significava começaram a fazer parte da minha vida. A outra parte do trabalho era andar com ele carregando a pesada bolsa de equipamentos.

Hoje, exatamente hoje, 14 de agosto, faz nove anos que essa história começou. Minha vida tomou um novo rumo. Me identifiquei muito com a fotografia, não saberia fazer outra coisa da minha vida. A tenho como profissão e o concurso em que fui premiado essa semana mostra que fui um aluno dedicado.

 
 

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