NO ÔNIBUS
Leila Silva
 
 

"Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo.
Nem todas as respostas cabem num adulto."
- Arnaldo Antunes, As Coisas, Iluminuras, 1992 -

O que pode significar horas paradas? Aquele momento que dedicamos à contemplação do teto? Aqueles minutos que nunca passam quando esperamos ansiosamente por alguém? Seriam as horas paradas aquele tempo em que estamos dependurados no barra de apoio do ônibus, estudando a cara dos outros passageiros? Se for isso, então eu tenho uma pequena história:

Era uma menininha linda, de mais ou menos cinco anos, acompanhada da mãe.

_ Manhê, olha aquele homem lá, ele não tem perna!

_ Ahn?

_ Aquele lá ó mãe, tá vendo a perna dele, pois então, ele não tem, só tem uma.

_ É filhinha, é como o Fulano, lembra? Ele não tem braço.

_ Hum hum

_ Sabe, ele quase perdeu também as duas pernas, só que Deus foi tão bom que curou as pernas dele, aí ele perdeu só o braço.

_ Mãe! Então por que Deus não curou o braço dele também?

_ ???

[Aqui, mãe com cara de tacho tentando arrumar uma explicação para o inexplicável]

 
 

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