O ÚLTIMO CLIENTE
Adão Jorge dos Santos
 

Todos os dias eu venho buscar minha esposa no mesmo horário. Espero ate sair o último cliente, depois ela descia e me beijava, dizia que eu era o homem mais compreensivo do mundo. Compreensivo não era a palavra mais adequada para a minha situação.

Nos conhecemos ali mesmo naquele clube. Ela trabalhava de noite como dançarina e fazia alguns programas para incrementar a renda. É claro que na primeira vez que a tive em meus braços me apaixonei por ela. Quis que ela deixasse aquela vida imediatamente. Quis que ela casasse comigo, que deixasse aquela vida ingrata imediatamente. Ela riu e disse que aquela era a vida dela e que não mudaria por homem nenhum, nem mesmo por amor. Apaixonado aceitei suas condições.

Naquela noite ela estava pronta para sair. Faltava pouco para terminar o expediente. Faltava apenas acertar algumas coisas com as suas colegas e logo estariámos indo embora.De repente, um homem sai sei lá de onde , toma-a nos braços e lhe beija demoradamente como eu a queria beijar. Ela me olha e da um piscada e em seguida sobe as malditas escadas que levam para os quartos. Eu sei o que eles vão fazer lá em cima. Sei muito bem.

Só não chorei porque homem não chora. Senti raiva, uma forte vontade de morrer tomou conta de mim. Mas não havia nada o que pudesse fazer. Aquele era o trabalho dela, e eu não tinha o direito de interferir, aceitei seus termos quando nos conhecemos. Respirei fundo, abri uma revista e esperei que ela terminasse de atender o último cliente. Tenho ou não tenho nervos de aço?

 
 
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