DE VOLTA PRA CASA
Virgínia Circhia Pinto
 

Semana passada fui a um Congresso no Canadá, na cidade de Vancouver. Fica no extremo oeste daquele país, portanto, no Oceano Pacifico. É um lugar cercado por montanhas rochosas com neve nos picos e um mar azul marinho de deixar a gente muda de tanta beleza. Em contraste com esta natureza tão soberba, a cidade é feita de prédios basicamente de vidros verdes, tanto os comerciais quanto os residenciais, então, tem-se a impressão de que tudo está em harmonia.

As calçadas e jardins de TODOS os prédios têm flores. De todas as cores, sempre como se algum japonês tivesse escolhido as melhores, tirado os vasos da estufa e colocado ali naquele exato momento. Tudo limpo!

Quando você põe o pé na faixa de pedestre, mesmo que esteja só tirando uma fotografia, os carros param imediatamente. E que carros! Todos, sem exceção, ou são BMW, Audi, Volvo, Toyota, etc...Carros conversíveis, nunca vi tantos juntos na minha vida. Guiados por homens ou mulheres que parece terem acabado de sair do estúdio de algum comercial de bem-sucedidos da vida. Roupas impecáveis. Cabelos idem.

Finalmente realizei meu sonho de consumo. Entrei num supermercado onde tinha tudo para higiene bucal que existe no mundo e me deliciei. Comprei o que pude, por que é tudo muito caro e não sei se cada ano que passa estou mais pobre ou menos arrojada.

Eletrônicos então, dão pra enlouquecer. Eu tinha a encomenda, ou melhor, meu bilhete de volta para casa, eram dois IPODS. Eu nem imaginava o que era isto. Andei feito camela procurando e logo descobri que era um MP3 metido a besta, da Aple e que para meu desespero, o modelo pedido por minhas filhas tinha sido lançado há duas semanas e estava esgotado. Perdi um dia da viagem atrás disto, mas valeu a pena. As meninas adoraram o presente e pude voltar pra casa.

O Congresso era da mais importante Sociedade Internacional de Câncer Infantil e eu tinha uma apresentação oral para fazer. Quando cheguei lá e vi que minha aula seria numa sala enorme, quase desmaiei. Depois de assistir algumas palestras voltei pro Hotel e fui repreparar tudo o que tinha levado, pois mesmo os americanos estavam lendo toda a aula e eu "pensava" em falar livremente (em inglês). Senti a maior dor no estomago e fui escrever tin-tin por tin-tin o que pretendia falar e imprimir para ler. Foi o que fiz.

No dia da apresentação, que seria as 16:30 horas, para me acalmar, tive vontade de sentir o vento do mar na cara e resolvi, ao meio-dia, fazer um passeio de barco. Peguei um barco/ônibus (Seabus) e fui para North Vancouver. Andei pelo mercado municipal, comi espetinhos chineses de frango, tirei fotos e voltei em paz, conversando com o oceano.

A apresentação foi ótima! Consegui dar meu recado e responder às perguntas (a parte mais difícil é eu entender quando falam o inglês rapidamente).

Passeei mais um pouco no dia seguinte, fui às compras e tomei o caminho de casa, viagem que demorou entre aeroporto, conexões e vôos, 24 horas.

Pela primeira vez na vida, ao avistar o céu cinzento de São Paulo estava profundamente feliz em voltar pra casa. A vida é generosa. Há um ano, eu nem imaginava que minha saúde voltaria ao normal e que o trabalho me reservava outros horizontes.

Conhecer novos lugares renova e trás luz à nossa vida, mas o melhor de tudo, é termos em algum lugar do planeta, um lar para voltar.

 
 

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