CONFISSÃO
Alexandre Ferreira
 
 

Fui taxativo: "Eu não te amo mais".

Mãos enfiadas na cara, os cabelos negros cobriam o semblante choroso, as lágrimas escorriam, soluços ecoavam na penumbra do quarto. Um "Por que?" Saiu engasgado, meio esganiçado numa rompante de choro. Meu silêncio respondeu sua pergunta e silenciar para ela era ofensivo.

"Maldito!!!", as veias do pescoço saltaram, olhos vermelhos, pupilas vidradas. Sempre odiei ver mulher chorando, mas estava me acostumando, perdi a conta de quantas meninas vi se debulharem em lágrimas nos últimos dois anos, cena conhecida, o cenário que mudava de quando em vez. Carro, praia, show de MPB, barzinho, escritório, banheiro, quarto iluminado, agora... Penumbra.

"Coração de pedra" Ela berrou, e dessa vez acertou, esse rótulo me caia bem e não era difícil aceitar tal verdade jogada na cara. Sempre admirei a verdade e era em verdade que sempre terminei meus relacionamentos, nunca conseguia me apaixonar, e elas... Porra, elas se apaixonavam rápido demais. Culpa minha? De certa forma sim. É prazeroso conquistar, mas é chato demais levar um caso a sério, mulheres são complicadas. Prefiro ficar só, é mais fácil.

Mão na maçaneta, viro as costas, "Volta... Por favor!", ela diz baixinho, não dá mais, liberdade, o sangue ferve nas veias, a porta se fecha, meus olhos brilham, penso na próxima, na dor, nas lágrimas, não é tão ruim assim, elas vão sobreviver, ou não. Não importa. Vida sem rédeas, coração duro, conquistar é bom, tenho talento, nasci pra isso.

 
 

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