AS AVENTURAS DE FLORIANO:
MUTANTE?
Bruno Pinheiro de Lacerda
 
 

Floriano, conflitante,
Em pensamentos mergulhado,
Foi do transi despertado,
Por alguém que lhe chamou:
_ "Bom guerreiro, qual é o seu nome?"
Quem era? Era a menina
Que nosso herói salvou;
_ "Meu nome é Floriano";
A menina continuou:

_ "A flor está no seu nome,
Meu nome é uma flor;
Minha graça é Jasmim,
Agradeço e dou louvor,
Pelo que fez por mim!
Ah, mas preciso de outro favor...

Preciso que me dê transporte,
Para o outro lado do deserto;
Quero reencontrar minha sorte,
Acalmar meu coração inquieto!"

_ "Está louca, garotinha?
O deserto é infernal!
Até para mim, sozinho,
Ele pode ser fatal!
E se você for comigo,
Poderá ter triste fim mortal."

_ "Bom guerreiro, os meus pais
Estão lá do outro lado,
Para uma guerra maldita,
Meu pobre pai foi chamado;
Minha família quero encontrar,
E para isso pago bem:
Se você me atravessar,
Em moedas de ouro
Ah, Floriano, dou-lhe cem!"

_ "Mas, eu não sou experiente!"
_ "A mim, basta que seja diferente,
Dos guerreiros que já vi;
Você parece ser inteligente,
E bom parece a mim;
Se o seu coração não mudar,
Sei que vamos conseguir."
Floriano hesitou,
Mas aceitou.

Floriano foi comprar,
Aquilo que precisava;
Na feira, armadura e cavalos
Para estocar ele comprava;
Floriano pronto estava,
E, mal o juiz autorizava,
Floriano já corria,
Começando a travessia,
Com amor e alegria.

No começo o bem,
No coração do herói imperou;
Mas a travessia maldita,
O coração do mocinho petrificou;
Coração duro... Coração duro...
Foi o que ao protagonista restou.

Mesmo com um grande estoque,
Floriano decidiu por um racionamento;
A menina aceitou "numa boa",
Pois tinha o entendimento:
Racionar para não faltar!...
Era esse seu pensamento;
Entretanto, naquele momento,
Floriano nada pensava...

Um, dois dias passados,
Que a menina sofria;
Não comia nem nada bebia...
Foi-se embora sua alegria,
Roubada pela fraqueza;
Tomou-lhe o corpo a tristeza,
E nosso herói nada dizia;
Nosso herói nada fazia...
Ah, ele sabia,
Mas, nada fazia...
Assim, como a menina viveria?

A menina pedia:
_ "Bom guerreiro,
Eu entendo,
Que é necessário o racionamento,
No entanto, não posso mais suportar!
Minha vida vai espirar!
Preciso de alguma água e alimento!"
Ah, a menina a falar...
E o "mocinho" a ignorar...
E o tempo a passar...

A menina insistia:
_ "Guerreiro, a minha alegria,
Já foi roubada de mim;
O que quer agindo assim?
Acaso quer me matar?
Não posso continuar,
Preciso de água e alimento,
E sei que você pode me dar,
Porque, de tanto racionar,
Temos tudo a sobrar!"
É verdade: tudo sobrava;
Todavia, nosso "herói" ignorava...
A menina definhava...
E o tempo que passava...

_ "Floriano, eu preciso,
De um pouco de água e comida;
Quer acabar com a minha vida?"
Floriano enfureceu-se...
_ "Avisada você foi,
Do perigo da travessia;
Mesmo assim quis vir comigo;
Se não fugiu do perigo,
Agora lhe resta agüentar;
Cale a boca e vamos embora,
Não mais quero ouvi-la falar".

A menina, então, bradou:
_ "Pensei que fosse diferente,
Seu maldito, bobalhão!
Pensei que fosse inteligente;
Você enganou meu coração!
Ah, você me nega o pão...
Acha que vivo de vento?
Ah, eu percebi a tempo!
Quero encontrar meus pais,
E não tenho proteção;
Entretanto, não sou boba não:
Eu não sigo com iguais!
Vou seguir minha jornada,
Eu vou só, nessa estrada,
Com amor e alegria,
Sem maldita companhia."

A menina pulou do cavalo e foi-se embora...
Floriano só olhava...
Coração duro...!!!...

Que fará o Floriano?
Deixá-la-á seguir caminho,
Seguindo, então, sozinho,
Ou voltará a ser humano?

 
 

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