MÁRMORE
Zeca São Bernardo
 

Olhos prendados com o azul de
Um céu que já não se vê mais...
Mãos suaves ao piano e delicadas
No trato com as linhas e agulhas.

Pele branca qual a neve que cobre ás
Montanhas da distante Europa,
Donde vieram seus ancestrais.

Versada nas artes, versada nas palavras...
Mui culta, mui bela e ainda herdeira de posses.
Dizia-se aqui e ali de grande herança,
A maior já vista nestes campos de tupinambas e
Paraguaçus.

Que lhe faltava? Amor!
Tinha só a certeza de que suas curvas encobertas
Por finas cedas, lindos brocados e finos cetins acendia
Paixões e despertava instintos dos rapazes, dos meninos
E lembravam alguma coisa de bom aos velhos já cansados.

Mas amor, não!
Qual certeza pode haver neste tal de amor?
Perguntava sua boca, enquanto mirava os carnudos lábios
No espelho do quarto.
Ao passar-lhe outra vez o mais fino e caro batom.

Qual certeza trás a vida d'algo, perguntaria-se um dia.
Já muito velha.
Ao perceber que endureceu o coração tanto, tanto
Que ficou sozinha!
Viu primavera, viu verão, viu outono e inverno passarem
A miúdo.
Não fez conta da felicidade, tão pouco da solidão...
...e o fato é que o fino mármore de seu túmulo,
recebeu seu corpo como parte sua fosse.
Eram ambos finos, caros, frios, duros.

 
 

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