SEM PILEQUE
Daniela Fernanda
 
 

Estou sóbria, terrivelmente sóbria. Situação deprimente, a qual vivo há meses.

Nas festas de família todos perdem o controle; menos eu. Enquanto todos da festa querem amanhecer na farra, eu quero dormir. Hoje sou o bicho grilo na floresta dos amigos, e também a ovelha branca da família de ovinos malhados e tortos.

Sou a diferente e a sem graça. A última companheira que alguém poderia querer para uma estupenda comemoração ou ainda para uma fossa daquelas malditas que às vezes acontecem.

No restaurante, enquanto os outros pedem a que desce redondo, a loira gelada... eu peço a preta mais vendida no mundo, idolatrada pelas crianças e crucificada pela geração natureba.

- Engorda...

- Causa celulite...

- Provoca flacidez...

- Corroí os ossos...

Entre outras porcarias mais.

Mas o pior de tudo é a falta de estímulo, a saudade da tonturinha, do riso fácil, a sensação de que tudo está numa boa e no outro dia descobrir que só se fez porcarias.

A sobriedade faz calar, amargar, engolir sapos, tragar as mágoas...

Uma sóbria não chora de rir, não morre de tanto chorar, não dá escândalos, não curte um amor à primeira vista, não joga copos nas paredes, nem roupas pela janela em um ataque de raiva. Sente ciúmes como as outras,é verdade, mas se controla. Não briga; troca idéias. Não faz greve de sexo; discute a relação. Não gasta mais do que ganha em uma noite; mas também não vive uma noite como se fosse a única.

Chega. Cansei. Eu só quero é dizer mesmo é que estar sempre sóbria é um saco.

 
 

fale com a autora