CÉU AZUL EM PORTO ALEGRE
Patrícia da Fonseca
 
 

Eu poderia escrever sobre tantas coisas...

Poderia escrever que no final do ano passado, tive que amargar - eu e mais da metade do Rio Grande do Sul - com piadinhas de mau gosto, sobre um certo time de Porto Alegre que jogou tão mal o ano inteiro, que despencou para a segunda divisão do futebol brasileiro, com algumas rodadas de antecedência. Último lugar. Eu costumava brincar se virasse a tabela de ponta cabeça, meu time ficaria em primeiro. Puxa, último lugar. E com convicção. Eu imaginava meu Grêmio como se fosse um menininho que teria ido mal na escola o ano todo e nós - torcedores desesperados e apaixonados - tentássemos fazer com que ele se recuperasse, aprendesse a matéria e não repetisse o ano. Porém, de nada adiantaram nossas promessas e orações a todos os santos. Nosso gauchinho rodou de ano. E já era a segunda vez que aquilo acontecia. Eu, como gremista, imaginava que nunca mais - absolutamente nunca mais - o Grêmio voltaria para a segunda divisão. Era como se tivesse sido vacinado e imunizado. Mas não é que o danado voltou?

Este ano meu menininho começou vacilante. Deu alguns tropeções, agüentava a chacota, lutava para tentar manter a postura e a dignidade. E os meses foram passando. Ele nos deu alguns sustos, no entanto se recompunha em seguida. Tudo começou a correr bem. O gauchinho começou a se firmar. E a torcida a se assanhar. Sim, o nosso garotinho iria passar de ano de novo. Estava tudo se encaminhando para isto. As coisas voltariam ao normal aqui no Rio Grande do Sul.

E então, hein seu Grêmio? No último jogo, no último e derradeiro teste, resolveu aprontar. Brigou, deu mau exemplo para o Brasil inteiro, chegou uma hora que eu esbravejei que se era para se comportar daquele jeito, que ficasse onde estava.

Mas nosso menininho não quis. Segunda Divisão é muito pouco para quem já alcançou a imortalidade nestes 102 anos de glórias. Depois da várzea, alcançamos o nirvana. E a tarde de sábado, dia 26 de novembro, estava tão linda e o céu tão azul, que deve ter sido obra dos Deuses Gremistas. Uma defesa espírita e um gol mágico levaram nosso Grêmio para o lugar de onde ele nunca deveria ter saído. Nossas bandeiras tricolores cobrem a cidade de Porto Alegre e mais da metade do Rio Grande do Sul acordou no domingo cantando o hino do Grêmio.

E só quem é gremista ou nasceu já gremista, pode entender o que realmente significou aquele jogo. Nós, que já conquistamos o Brasil, a América e tornamos o mundo azul em 1983, comemoramos não só o Ascenso para a série A, como o resgate da nossa dignidade. E para quem ainda não sabe, quem é gremista tem o coração pintado de azul. E ele está batendo mais forte desde ontem, às 18:35, 26 de novembro de 2005. Entramos para a história. De novo, para não perdemos o costume.

E para não deixar dúvidas, era uma linda tarde de céu azul em Porto Alegre. Meu menininho é um gigante.

 
 

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