O FIM DA INOCÊNCIA
Rachel Kizirian
 
 

Quando tudo era cor-de-rosa e o sol brilhava mesmo nos dias de chuva, a inocência andava de mãos dadas com o tempo. Passeavam juntos, andavam pelas ruas tranquilamente, compravam doces e sorvetes. Sorriam.

Aos 12, minhas vontades mudavam. Meu interesse por brincar de panelinha com as amigas não era tão importante, preferia ficar ouvindo música, escrevendo quieta no meu canto, trocando idéias com o pensamento. Naquele tempo em que brincava numa área na frente de casa, dançando, virando estrela, não me importava quem passava na rua, ali era o meu lugar, meu domínio. E o mundo cresceu. Tão rápido que de repente veio a cobrança, primeiro da amiga que exigia que eu brincasse com ela como no passado, nada distante, depois a vida me pegou de jeito. A inocência se separou do tempo.

E nesse jeito corrido, rápido, intenso, não pensei muito bem no que a tal da inocência queria ou como ela ficou. Acho que ficou meio triste, caiu uma lágrima, abaixou a cabeça e ficou ali a olhar os acontecimentos. E eu nem aí para ela. Então ela pôde perceber que os dias trariam realidades que ela não queria, mas que eram necessárias. A inocência se perdeu pelo caminho, muitas vezes trombo com ela em meio às matas, mas meu tempo é escasso e não posso parar para ouví-la, cumprimento e saio correndo. Ela vem atrás me diz que vale a pena, mas o tempo, ah o tempo, aquele que vivia de mãos dadas com ela, não a deixa chegar perto, está sempre com pressa e pior, com medo da realidade, então, não tenho tempo de dar ouvidos à conversa da inocência, porque hoje em dia quando a inocência toma conta, todos dizem que o tempo passou e você não cresceu, você se esqueceu, você se acabou. Eu fico tentando me perguntar por quê o tempo é tão voraz? E por quê a inocência não corre atrás?

E então eu vejo que naquele dia que o tempo e a inocência tomaram rumos diferentes, cada um para o seu lado, o homem ficou mais triste, porque ali entre aqueles dois mundos existia uma grande amizade. E o homem na sua escolha ficou com o tempo, apressado, irritante. E a inocência coitada, tão acanhada ficou ali, sentada na pedra de cabeça baixa querendo mostrar que sem ela, o homem perderia muitas coisas. Mas o homem nem ligou, agarrou no braço do tempo e foi embora. Mas como a inocência não desiste, naquele dia que se separou do homem e do tempo, ela deixou dentro do coração um pequeno embrulho, com fita vermelha que fica no canto e quando o homem se perde no tempo e não tem mais tempo para nada, ela o lembra dos tempos antigos, daquela época onde as matas tinham apenas árvores e sol brilhava constantemente. Então ele deixa o tempo de lado e segura firme na mão da inocência buscando o que perdeu há tempos atrás e dele caí uma lágrima, porque agora não há mais tempo para mudar, então ele senta na pedra e ficam ali de conversa até o sol o raiar.

 
 

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